São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Exposição de Vergara peca por hermetismo

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

As 15 telas que o gabinete Raquel Arnaud exibe atualmente representam duas fases na carreira de Carlos Vergara, 53. Mas há algo comum a ambas: hermetismo.
Uma é herdeira de sua última exposição em São Paulo –na Capela do Morumbi, há dois anos.
Lá, Vergara apresentou panos de poliéster que remetiam ao Santo Sudário –à idéia da imagem gravada, transpirada para outro meio. E que faziam referência a um mundo concreto –o barroco mineiro. Ele vem trabalhando em Minas há cinco anos, com fornos de uma usina de pigmentos.
Todo elemento é sugestão em Vergara. Se mostra uma elipse, é porque, como diz, ela é um "círculo que tende ao infinito"; logo, sinal religioso. As elipses da exposição anterior estão de volta a esta. As cores terrosas, também.
A outra fase, com seis telas, é nova. Entraram cores mais vivas, por exemplo, que lembram o Vergara que fez pop art nos anos 70.
Outra novidade é o uso de lona crua. Sobre ela Vergara dispõe materiais (terra, por exemplo) que fazem pensar em trabalho manual, artesanato rural, em coisas concretas, enfim, que se contrapõem às sugestões religiosas.
Para Vergara, no entanto, essa não é uma contraposição. A religião, em Minas, emana da terra –é o que ele parece dizer nas duas fases da exposição atual.
O problema é que diz de modo obscuro demais; é preciso estar familiarizado com a obra de Vergara para entendê-la. Certamente, arte não precisa ser 100% acessível, mas Vergara cria poucos estímulos para os não-iniciados.
Ao contrário do que ocorria na exposição da Capela do Morumbi, esta não tem impacto, não fala ao senso estético antes que ao raciocínio intelectual.
Na capela, os panos grandes e translúcidos e o ambiente rústico criavam de imediato a sensação de estar num mundo barroco, sujeito à religiosidade. A mera plasticidade apontava a temática.
Nesta, há intervalo entre intenção e realização. Talvez o motivo seja a crença –comum hoje– na textura da superfície, no aspecto dos materiais colocados na tela.
Muitos pintores estão se bastando nessa tal "investigação da textura". Às vezes, o resultado é interessante, como nas telas que Antonio Dias exibiu na 22ª Bienal Internacional de São Paulo. Mas Dias se pautou na clareza.
Vergara, não. A confusão visual de suas telas não fixa imagens nem sensações na mente do espectador –que tende a esquecê-las.

Exposição: Carlos Vergara
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, tel. 011/883-6144, Pinheiros, zona oeste)
Quando: de seg a sex, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 14h; até dia 23

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