São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994 |
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Monstro sofre drama humano
JOSÉ LUIZ AIDAR
Apesar de adquirir a vampírica necessidade de sugar sangue alheio, ele não consegue matar pessoas. Por alguma extrema inserção no espírito de seu tempo, Louis não consegue, mesmo tornado-se vivo-morto, abandonar o sentimento de culpa dos neuróticos mortais. Vampiro pós-Freud, ele agarra-se à condição de mortal, mesmo depois de perdê-la. Qual a novidade? Ora, os vampiros antigos ao serem mordidos sofriam uma transformação física e abandonavam a esfera de pensamento mortal, inclusive a problemática ética, que leva os mortais a responderem por seus atos uns frente aos outros. O sentimento de culpa é o mais íntimo da neurose e sem ele não se pode falar em ética. O vampiro está além (ou aquém) dessa esfera, ele suga/mata para continuar a ser vivo/morto, a ser essa coisa das trevas. Talvez no limite pudéssemos dizer que o vampiro não tem seu Outro, ele que não tem reflexo, que não segue a movimentação do desejo dos mortais, mas persegue somente a necessidade de sugar, de destruir, de gozar matando. O que Armand acha belo em Louis? Justamente isso de "humano" que ainda permanece no outro quando ele se torna vampiro, essa problemática do mundo psicológico do século 20, esse tormento que faz com que ele viva a duplicidade doída de ser vampiro-homem. E se lance numa entrevista. A idéia de um vampiro dando entrevista é quase absurda, a não ser que o vampiro em questão seja esse paradoxo sangrento, aquele que se identifica ao traço perverso do vampiro-pai, mas o recusa, recua, jamais porém conseguindo deixar de ser vampiro. Permanece vampiro, mas segue desejando. Texto Anterior: Tom Cruise protagoniza festim nojento Próximo Texto: Tom Cavalcante vai ser Ed Mort no cinema Índice |
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