São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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'Fresh' nuança olhar sobre marginalização

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Filme: Fresh
Direção: Boaz Yakin
Elenco: Sean Nelson, Giancarlo Esposito, Samuel L. Jackson
Onde: Espaço Banco Nacional/sala 1

Talvez valha a pena guardar o nome de Boaz Yakin, ex-roteirista cuja estréia na direção foi parar numa das mostras paralelas do último Festival de Cannes. Com apenas um intérprete relativamente conhecido em seu elenco, o "spikeleeano" Giancarlo Esposito, "Fresh" é um drama miúra protagonizado por mafiosos negros. Um "Boyz 'n the Hood" da Costa Leste, só que mais inspirado e criativo, sobretudo do ponto de vista visual.
Apesar de bancado pelo mesmo produtor (Lawrence Bender) que primeiro acreditou nas potencialidades de Quentin Tarantino, Yakin não exagera nas cenas de violência. "Fresh" é um filme tão "cool" quanto o seu epônimo pixote, que ganha a vida entregando papelotes de cocaína e acaba se transformando numa espécie de escoteiro do mal, com as graças de Maquiavel e as lições de estratégia que seu pai (o tarantiniano Samuel L. Jackson) lhe dá sobre um daqueles tabuleiros públicos da Washington Square.
Terminando com um xeque-mate em adversários de carne e osso, "Fresh" é construído, ao mesmo tempo, como uma metáfora do xadrez e uma alegoria sobre a bondade. Seus temas mais visíveis, porém, são o inferno do submundo das drogas e a infância desamparada e sem perspectivas. Fresh (Sean Nelson) é um menino sem tempo para brincar, que nunca sorri e executa os seus pequenos delitos com desconcertante frieza. Uma melancólica figura que cedo descobre qual é a coisa certa a ser feita para sobreviver na selva febril dos guetos nova-iorquinos.
Apesar de ser branco, Yakin cativou a comunidade negra (e até mesmo Spike Lee) com sua visão nuançada da marginalização e do pega-pra-capar urbano. Nuançada até na trilha sonora, livre de hip-hops, raps e outros clichês musicais de "black movies". O que nela se ouve, com a assinatura de Stewart Copeland, lembra mais Ry Cooder do que Public Enemy e irados que tais. (Sérgio Augusto)

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