São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Carter viaja para tentar paz na Bósnia

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, 70, viaja amanhã para a ex-Iugoslávia com o objetivo de negociar um acordo para pôr fim à guerra civil na Bósnia, iniciada em abril de 1992.
O líder dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, disse em entrevista à rede de TV por cabo CNN que ele está "pronto para acabar com a guerra", inclusive a fazer concessões territoriais.
O Departamento de Estado norte-americano expressou ceticismo quanto às possibilidades de êxito da missão Carter. Seu porta-voz declarou que Karadzic já quebrou promessas similares diversas vezes no passado.
Mesmo assim, dois diplomatas norte-americanos seguiram ontem para Plains, Geórgia (sul do país), para brifarem o ex-presidente sobre os mais recentes desenvolvimentos da crise na ex-Iugoslávia.
Carter vai viajar como cidadão comum, não como enviado do governo de seu país. Embora os detalhes de sua viagem ainda estejam sendo acertados, espera-se que ele parta para algum lugar da Europa amanhã à noite.
No domingo de manhã, Carter vai ser levado a Sarajevo, capital da Bósnia e ponto central do conflito, a bordo de um avião militar dos EUA a serviço da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Sarajevo está cercada por tropas sérvias.
Em Sarajevo, o dia de ontem foi calmo, mas observadores acham que isso não é indício suficiente da boa vontade de Karadzic a respeito de um projeto de pacificação para a ex-Iugoslávia.
O ex-secretário de Estado dos EUA Lawrence Eagleburger criticou com dureza a missão Carter: "Ele mal sabe onde a ex-Iugoslávia fica", disse.
Para Eagleburger, a única solução para o problema é forçar os sérvios da Bósnia a aceitarem as resoluções das Nações Unidas relativas à região.
O secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, também recebeu a iniciativa de Carter com reservas, embora suas palavras formais tenham sido de incentivo à missão do ex-presidente.
Segundo Carter, Karadzic está disposto a fazer diversas concessões imediatas. Entre elas, libertar soldados das forças de paz da ONU que são prisioneiros dos sérvios, garantir o livre movimento dos comboios com ajuda humanitária na Bósnia, respeitar um cessar-fogo em Sarajevo, libertar todos os prisioneiros bósnios com menos de 20 de anos de idade e garantir direitos humanos nas áreas sob seu controle, além de se dispor a negociar a retirada de parte dos territórios sob seu domínio.
Os sérvios, minoria que combate a independência da Bósnia defendida por croatas e muçulmanos, nunca atenderam a pedidos feitos por mediadores para que cumprissem o que agora prometem.

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