São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise dos bancos estaduais

Durante a sabatina a que foi submetido no Senado, o futuro presidente do BC, Pérsio Arida, ressaltou inexistirem "razões doutrinárias" para a existência de bancos estaduais. E recomendou a privatização como solução definitiva.
Entretanto, o governador eleito de São Paulo, Mário Covas, deu a saber que é também favorável à privatização. Mas de empresas estatais. Entre privatizar o banco estadual ou alguma estatal, Covas prefere a segunda alternativa. E o futuro secretário da Fazenda de Minas Gerais já declarou que espera contar com a solidariedade federal para o saneamento do Estado.
Doutrinas à parte, parece portanto óbvio que as inclinações pragmáticas podem não coincidir de parte a parte. Fala-se hoje muito em privatização, mas as opções podem não ser as mesmas.
O fato é que os bancos estaduais converteram-se nos últimos anos em formas disfarçadas de financiamento inflacionário. Os Tesouros estaduais se endividam, lançando títulos no mercado que os seus bancos tratam de assumir. Quando esse "carregamento" torna-se insustentável, ou seja, quando o seu custo ultrapassa a capacidade de captação dos bancos estaduais, vem o Banco Central em seu socorro. Geralmente trocando essa dívida estadual de carregamento difícil por papéis federais. Na prática, o Banco Central financia os Tesouros estaduais, ainda que indiretamente. No caso do Banespa, por exemplo, o rombo gerado por sucessivas operações de financiamento ao Tesouro estadual é estimado em pelo menos US$ 7 bilhões.
O que se verifica, portanto, é mais grave até do que disse Pérsio Arida. Não se trata apenas de a existência de bancos estaduais encontrar pouca ou nenhuma justificativa doutrinária. Mais grave, a sua gestão tem acarretado violações flagrantes e insustentáveis da boa doutrina em matéria de finanças públicas e gestão monetária.
São bancos contra a doutrina, mais que sem doutrina. Cabe ao Banco Central restabelecer, e rápido, a disciplina.

Texto Anterior: Anistia imoral
Próximo Texto: O mistério da terça-feira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.