São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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O "pepino" de Itamar

Gilberto Dimenstein
BRASÍLIA – Um punhado de números euforicamente liberados ontem pelo Palácio do Planalto mostra que o presidente Itamar Franco deixa um notável, digamos, "pepino" a Fernando Henrique Cardoso –uma altíssima popularidade. Óbvio: muito mais fácil substituir alguém com baixa popularidade, atacado por todos os lados.
Os números, de fato, impressionam. Pesquisa do Ibope, realizada este mês, mostra que 42% dos brasileiros consideram o governo Itamar Franco ótimo ou bom; 46%, regular. Ou seja: em diferentes graus, 88% aprovam.
Dos entrevistados, 85% consideram, por exemplo, seu papel importante na campanha da fome. Foi, na melhor das hipóteses, um figurante, já que o movimento teve seu motor na sociedade civil.
A história comete injustiças. Alguns estadistas realizam excepcionais gestões, mas saem desacreditados e atacados; tempos depois, a partir de uma visão mais ampla, o trabalho é valorizado.
Há aqueles que fazem trabalhos medíocres, mas conseguem ganhar e usufruir notoriedade –mas, com o tempo, a história posiciona-os em seu lugar. É o caso do Itamar Franco, salvo (repito, salvo) por Fernando Henrique. Por pouco, muito pouco, o presidente não embolou o lançamento do Plano Real.
O fato: Itamar Franco é popularíssimo. Portanto, um desafio para Fernando Henrique Cardoso. Nada parecido à tarefa de Itamar que substituiu Collor, destronado debaixo de vaias.
Daqui a pouco tempo, a opinião pública vai se esquecer do sabor da inflação baixa; passa a ser rotineira. Ganham espaço outras exigências: mais salários, empregos, educação, saúde, segurança. Novas cobranças e, assim, novas referências para se medir a qualidade de um presidente.
Nessas áreas, as mudanças são bem mais lentas e dependem de uma ação conjugada entre União, Estados e municípios, além de uma revolução no serviço público. É uma tarefa não para um presidente, mas uma geração.

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