São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Alfaces e telefones

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – A classe política anda estressada: depois de tantos escândalos, tendo afastado um presidente da República em nome da moralidade e praticado outras tantas imoralidades através de vários de seus membros, não quer fazer marola.
Por isso mesmo passa ao largo das denúncias que envolvem o chamado "amigo nº 1", presidente da Telerj até o início do mês. São acusações fundamentadas, embora sem validade jurídica. Grampearam o homem dos telefones –o que é ilegal–, mas a tramóia com o dinheiro público está configurada.
Em épocas normais, a denúncia provocaria uma CPI no Congresso, pois envolve dinheiro público e dois governadores recentemente eleitos. O certo seria adotar, para o caso, a rotina que foi obedecida no escândalo de Collor. O Congresso apuraria os fatos e tomaria a decisão de sua competência.
O aspecto legal ficaria a cargo do STF –e, evidentemente, a prova até agora colhida (o grampo telefônico) seria desprezada. Mas se o Congresso cumprir sua obrigação, fatalmente surgirão provas tão ou mais convincentes e captadas talvez por meios legais.
Se o Congresso não deseja fazer marola, a mídia também parece exausta e prefere as especulações do ministério, como se a ida de Weffort para a Cultura, administrando 0,2% do Orçamento, possa lavar a égua da nação. Ou, o que é pior, tentar entender que diabo há atrás das manobras que fazem um sujeito ser hoje candidato à Fazenda, depois ao Planejamento, depois à Educação, aos Transportes, às Endemias Rurais e à embaixada na Unesco.
A atenção da mídia precisa se concentrar nesses temas transcendentais.
Os telefones que ajudaram as campanhas de Antônio Britto e Roseana Sarney serão esquecidos. PC tomou alfaces de empresários para sustentar a corte de Collor. No caso da Telerj, parece que roubaram dinheiro do povo do Rio de Janeiro para ajudar a eleger dois governadores, um ao norte, outro ao sul: crime mais grave e imperdoável.

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