São Paulo, sábado, 17 de dezembro de 1994
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Notícias do front

JANIO DE FREITAS

Revista sem mandado judicial em casas de favelas e em mais de 300 apartamentos de Copacabana, canhões apontados para populações faveladas pacíficas, carros blindados nas ruas, filmes tomados de fotógrafos que sequer estavam em área de ação militar –e, no entanto, nem com estas arbitrariedades a Operação Rio conseguiu provocar os efeitos desejados nas estatísticas oficiais da criminalidade.
Inéditas até este registro, as estatísticas demonstram que o número de homicídios dolosos em novembro, com os militares já investidos da sua nova missão, tiveram menos 80 casos que em outubro, mas com o mesmo total de julho (681 e 682) e até mais do que em maio e agosto (621 e 610). Ou seja, a queda já se manifestara antes da presença militar e tinha sido até mais acentuada.
As agressões com lesão corporal pularam, de outubro a novembro, de 3.119 para 3.481. O roubo a carro-forte teve a formidável queda de 50%: de dois casos para um. O roubo a banco ficou no mesmo nível, 39 e 38 de um mês para o outro. Observa-se, aliás, que este crime dobrou sua intensidade a partir do momento (setembro) em que a campanha pela intervenção militar foi despejada sobre o Rio. Se apenas acaso ou, como prefiro supor, adaptação imediata do crime a uma alternativa à presumida repressão ao varejo de drogas, está por ser esclarecido, e não se espere que o seja.
As apreensões de armas e de drogas são insignificantes. Entre os 50 presos em 30 dias de invasão de favelas, nenhum dos que participaram das cúpulas de quadrilhas. Destas o que se pode presumir é que fizeram o acordo óbvio, para o conveniente intervalo em suas disputas públicas.
Os militares conceberam sua ação no Rio como combate a diversas áreas conflagradas. Mobilizam, pois, sua parafernália bélica e partem para as favelas como em ação de guerra. Mas as favelas não estão conflagradas. São concentrações de trabalho e pobreza, cuja densidade é utilizada pelos núcleos de marginais como barreira protetora. Carros de combate e arbitrariedades são impotentes diante deles.
Caso exemplar
Fundador do PT, co-autor dos mais importantes documentos emitidos pelo PT, co-autor das propostas de Lula nas campanhas de 89 e 94, professor de "ciência política", Francisco Weffort, ao deixar o PT para tornar-se ministro da Cultura, fica devendo aos leitores dos seus trabalhos a resposta a uma pergunta: o que o diferencia daqueles a quem tanto acusou, ao longo da vida adulta, por deteriorarem a política e os governos com seu oportunismo, infidelidade partidária e inconsistência de princípios –em uma palavra, com seu fisiologismo?
Se, a seu juízo, Fernando Henrique é portador de possibilidades inovadoras, já o era durante a campanha, porque não mudou de lá para cá. Logo, a adesão coerente de Weffort deveria ocorrer, como a de outros, durante a campanha, quando agiu na tentativa de evitar a vitória de Fernando Henrique. A adesão só se deu, porém, ao aceno do eleito com um ministério.
Nisso, o futuro ministro da Cultura deu um triste exemplo da incultura política que faz do Brasil o que ele é.

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