São Paulo, sábado, 17 de dezembro de 1994
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Herói era a cara de seu criador

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Terno azul e chapéu de aba larga, da mesma cor, os olhos cobertos por uma máscara –já foi assim que Denny Colt, O Espírito, invadiu as páginas dos quadrinhos. Eisner já havia criado outros heróis, mas O Espírito foi o único que ficou. Era a versão amadurecida de outro Robin Hood urbano, "Muss'em Up'Donovan", inventado pelo desenhista para mostrar como a polícia costuma ser insensata, idiota e inoperante.
"Muss'em Up' Donovan foi de fato o embrião do Spirit", confirma Eisner, que se orgulha de ter formado em sua equipe uma série de desenhistas e artistas gráficos famosos, como Jack Kirby e Joe Simon. E até mesmo um mestre do humor, Jules Feiffer.
"Ele apareceu um dia em nosso escritório, dizendo-se interessado em fazer qualquer coisa. Deixei-o cuidando das cores, por um salário baixíssimo. Com o tempo, suas habilidades foram surgindo. Além de colorir as tiras de O Espírito, Feiffer desenhava o meu nome. Depois, passou a fazer a lápis as letras dos balões. Várias vezes aceitei suas sugestões."
Feiffer cismou de cara que Denny Colt não podia usar meias e, por isso, não coloriu as que Eisner havia desenhado. Eisner achou graça, concordou com a idiossincrasia, mas quis saber por quê. A resposta nada esclareceu. "Um detetive judeu não usa meias", explicou Feiffer.
Consta que há 50 anos O Espírito era a cara de seu criador. Sem máscara. "Com a idade, eu acabei ficando parecido com o inspetor Dolan", ironiza Eisner, que, como seu herói, adora se autodepreciar. Nada mais judaico. (S.A.)

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