São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Argentina investiga prostitutas brasileiras

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Polícia Federal argentina está investigando uma rede de prostituição brasileira em Buenos Aires. Nos últimos oito meses, a PF já detectou a presença de mais de 250 prostitutas brasileiras. Até o final de 93, o número de brasileiras era insignificante, argumentam os policiais. O aumento foi de cerca de 80%.
Oficialmente, a PF não comenta o assunto. Reservadamente, alega que existiria uma suposta campanha para legalizar a prostituição em Buenos Aires, ao lado da pressão de empresários e políticos para que a capital também tivesse cassinos –hoje proibidos legalmente.
As brasileiras não dão trabalho à PF. A maior parte, segundo os agentes, são "gatas" –prostitutas que frequentam ambientes sofisticados, têm automóvel e dificilmente seriam apontadas como "mulheres de programa".
As brasileiras até agora não estiveram envolvidas com drogas ou roubos. Poucas frequentam a região do Abasto –bairro que, à noite, transforma-se numa espécie de Bronx da capital portenha.
No Abasto, uma noite, de 22h a 8h, custa cerca de US$ 100,00. Para as brasileiras que frequentam a Recoleta –um dos bairros nobres de Buenos Aires–, isso não sairia por menos de US$ 600,00.
Até agora, o Consulado Brasileiro em Buenos Aires não dá atenção às prostitutas. Age da mesma forma com os mais de 50 mil brasileiros que trabalham ilegalmente na Argentina.
A PF argentina está preocupada com a falta de registro de entrada de brasileiros no país. Brasileiros não precisam de passaporte para entrar na Argentina. Basta a apresentação da carteira de identidade.
Independência
Luma (nome fictício), 24, já se prostituía no Rio. Morena, 1,70, fazia sucesso com os argentinos. Há seis meses, por conta própria, mudou-se para Buenos Aires.
Não aceitou o esquema oferecido por uma amiga brasileira, também prostituta, que trabalha mediante uma agência ("El Mejor"- o melhor). Luma não queria continuar com o sistema de comissões.
Com uma economia de US$ 5.000, alugou um apartamento de quarto e sala no bairro de Flores, de classe média baixa. Segundo ela, logo recuperou o investimento. Três meses depois, já estava morando na Recoleta, num pequeno apartamento de dois quartos. Segundo ela, "muitos políticos argentinos" são seus clientes.
Luma afirma que tem uma renda de US$ 5.000 por mês, descontadas as despesas.
A cada três meses, se submete a um teste de Aids. Muitas vezes ela não resiste aos apelos dos clientes que pagam mais "por uma transa sem camisinha".

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