São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Trabalhador quer ser ouvido

WENDY KOCH
"USA TODAY"

Uma grande pesquisa feita nos EUA revela que o trabalhador norte-americano quer ser mais ouvido nas decisões que afetam seu emprego.
Quase dois terços dos trabalhadores dizem que querem ter maior influência na tomada de decisões, mas menos da metade acredita ser provável que consigam isso, de acordo com estudo financiado por empresas privadas e conduzido por dois dos principais especialistas na área trabalhista.
A maioria dos trabalhadores também afirma que sente "um bocado" de lealdade por sua empresa, mas duvida que seus empregadores mantenham as promessas feitas.
Muitos se sentem frustrados. Um em cada três não tem vontade de ir para o trabalho e classifica as relações entre empregados e gerentes como "apenas justas" ou ruins.
Para melhorar essas relações, a maioria diz preferir comitês mistos, com empregados e gerentes, aos sindicatos. A maioria diz que os grupos de empregados só funcionam se os gerentes cooperarem.
Talvez, o mais surpreendente: dois terços dizem que preferem um grupo que não tenha poder, mas que tenha a cooperação da administração, a um que tenha mais poder, porém a oposição da administração.
Grupos de sindicatos e de empregadores que atuaram como conselheiros no estudo dizem que consideraram as descobertas "precisas". O secretário do trabalho, Robert Reich, considerou-as úteis para as discussões sobre a política trabalhista nos EUA.
Uma comissão indicada pelo presidente Clinton para recomendar mudanças nas leis trabalhistas está examinando cuidadosamente o estudo. Espera-se que essa comissão divulgue seu próprio relatório ainda este mês.
Os sindicatos esperam que as descobertas do estudo incentivem a comissão a recomendar mudanças legais para tornar mais fácil sua organização. O estudo sugere que os trabalhadores gostariam de uma organização sindical mais simples.
Por outro lado, as descobertas também apóiam a posição dos empregadores. Elas sugerem que os trabalhadores, desejando a cooperação da administração, possam aceitar comitês que reservem aos gerentes a última palavra.
A comissão pode decidir se recomendará mudanças nas leis trabalhistas para permitir a criação de sindicatos controlados pelas empresas.
Um dos membros da comissão é Richard Freeman, economista da área trabalhista da Universidade de Harvard, que co-dirigiu o estudo.
O estudo, também dirigido por Joel Rogers, da Universidade de Wisconsin-Madison, envolveu entrevistas de meia hora, pelo telefone, com 2.408 pessoas que representam três quartos dos trabalhadores do setor privado do país.
Esta é a segunda parte de um projeto, com duração de um ano, sobre a representação e participação dos trabalhadores.
"Uma quantidade impressionante de pessoas diz que sente lealdade por seus empregadores", especialmente aqueles com longo tempo de serviço, disse Freeman. Na média, os trabalhadores permanecem por oito anos na mesma empresa.
Ainda assim, diz ele, muitos estão desapontados. O fato de um terço não querer ir para o trabalho de manhã é uma descoberta "bastante sombria".
Roger disse que o nível real de descontentamento pode ser ainda maior. "As pessoas acham difícil relatar sua insatisfação", disse.
O estudo constatou que:
1) Em sua maioria, os empregados dizem que, se tivessem um papel maior na tomada de decisão, suas empresas seriam mais fortes, a qualidade de seus produtos seria melhorada e eles gostariam mais de seus trabalhos;
2) Dois em cada cinco dizem que votariam com um sindicato em uma eleição e acreditam que seus colegas fariam o mesmo –quase três vezes o nível atual de sindicalização. Mas a maioria também acredita que os empregadores seriam contra um sindicato;
3) Na proporção de dois para um, os trabalhadores são mais favoráveis a comitês conjuntos de empregados/administradores do que a grupos de empregados dos sindicatos como meio de aumentar sua influência;
4) Os trabalhadores preferem que as organizações de empregados tenham certa independência e que seus representantes sejam eleitos e não escolhidos pelos empregadores.
Tradução de Gladys Wiezel.

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