São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994 |
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Guia escorrega em ingenuidades
NELSON BLECHER
Apesar de pautado por saudável zelo ético e de fornecer dicas que denotam traquejo profissional, o livro comete deslizes. Idealiza o jornalista como um ingênuo ao sugerir que abastecê-lo de informações confidenciais ("off-the-records") é suficiente para, em momentos de crise, "ganhar a imprensa como aliada no processo de levantar ângulos mais positivos para a empresa". Nada garante isso. É mais frequente que, nessas ocasiões, o repórter, por dever de ofício, aguce o faro para desconfiar de versão unilateral da parte envolvida. Outro conselho duvidoso refere-se à possibilidade de comprometer o repórter a não divulgar, sob qualquer hipótese, informações em "off". Em geral, o máximo que se obtém, mediante acordo, é não ser identificado. A autora se equivoca ao classificar o encontro desigual entre jornalistas e fontes como uma troca. O relacionamento pressupõe o potencial conflito entre interesse privado e a missão da imprensa de publicar tudo o que julgar de interesse público. Aconselha, erroneamente, que encontros com jornalistas podem ser úteis para se medir a "imagem" da empresa. A função do repórter é perguntar. Inversão de papéis costuma suscitar constrangimentos. É bobagem indagar sobre como serão veiculadas as informações -outra sugestão contida no guia. Jornalistas sagazes operam com conexões de informações e não revelam seus objetivos no curso das investigações. Ao recomendar que entrevistados evitem "polemizar ou comentar declarações feitas por terceiros", a autora, jornalista Vera Dias, tenta privar a imprensa de um dos principais veios por onde costuma trafegar a verdade: o confronto de versões no calor dos acontecimentos. Texto Anterior: Aprenda a lidar com a imprensa Próximo Texto: Manual orienta jornalistas Índice |
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