São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994 |
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Glamour é maior que salário
JOSIAS DE SOUZA
No Brasil, o salário inicial de um terceiro secretário, o mais baixo posto da carreira, é de R$ 600,00. O salário de um ministro de primeira classe, o posto mais alto, gira em torno de R$ 2.100,00, incluindo gratificações de postos de chefia. Os valores referem-se ao que os diplomatas chamam de "take home", ou seja, o dinheiro que levam para casa, o líquido. Quando destacado para postos no exterior, o diplomata recebe salários mais altos. Mas é submetido a custos de vida em geral também mais elevados. Circuito Elizabeth Arden As embaixadas mais disputadas são as situadas no chamado circuito Elizabeth Arden, uma denominação extraída da marca de produtos do toucador feminino. Os frascos dessa marca trazem os nomes das cidades que compõem o circuito da moda: Paris, Roma, Londres e Nova York. Dada a sua importância, acrescentou-se a embaixada de Washington no circuito. E, mais recentemente, incluíram-se também Lisboa e Madri, postos igualmente disputados. E o circuito Henê Maru Há também o circuito Henê Maru, referência a uma linha nacional de produtos de beleza. O apelido, cunhado entre os alunos do Rio Branco, serve para denominar as embaixadas menos badaladas, em especial as africanas. O embaixador de um posto linha Elizabeth Arden recebe entre US$ 15 mil e US$ 18 mil. Um embaixador categoria Henê Maru pode ser submetido a remunerações bem mais baixas, de até US$ 8,5 mil. O cargo de embaixador só pode ser exercido pelos ministros de primeira classe. Uma vez nomeado, o diplomata conservará o título mesmo depois que abandonar a embaixada. Trata-se de uma distinção prevista na tradição da Casa, embora o posto de embaixador não se constitua, ao contrário do que ocorre em outros países, em um degrau da carreira diplomática. O posto mais bem-remunerado do Itamaraty é o de embaixador do Japão. Recebe cerca de US$ 19 mil. Tóquio é considerada a cidade com o mais alto custo de vida do mundo. As inscrições para o próximo exame de admissão do Rio Branco encerram-se em 3 de março de 1995. O primeiro teste é o de idiomas. Além do português (disciplina eliminatória), o candidato precisa dominar o inglês e o francês. Nesta primeira fase, além dos testes aplicados em Brasília, o Itamaraty envia examinadores a outras dez cidades: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Os candidatos aprovados são convocados a Brasília. Passam por uma bateria de exames médicos. Se não forem portadores de doenças como Aids, psicose, tuberculose e câncer, passam à fase seguinte. Realizam-se então dez provas. Entre as disciplinas exigidas estão história, geografia, questões internacionais contemporâneas, ciência política, economia e direito. Anualmente, inscrevem-se no Rio Branco uma média de 600 candidatos à carreira diplomática. Destes, 50 passam nos testes e 30 conseguem ser aprovados ao final de dois anos, prazo de duração do curso. Em geral, têm vaga garantida. No momento, há 51 cargos vagos no início da carreira. Enquanto estiver cursando o Rio Branco, o candidato a diplomata recebe R$ 425,00 mensais, quando solteiro. Se for casado, receberá R$ 476,00. O aluno tem direito também a apartamento funcional. O currículo do Rio Branco sofre atualizações à medida que a política externa brasileira evolui. A redemocratização do país provocou, por exemplo, a inclusão do tema direitos humanos nas aulas sobre direito internacional. Na mesma época, o Rio Branco começou a ministrar aulas sobre meio ambiente, um tema incorporado rapidamente à agenda diplomática. No ano passado, promoveram-se seminários sobre turismo, outro assunto antes relegado a plano secundário. Em 95, o embaixador Sérgio Bath, diretor do Rio Branco, pretende promover um curso sobre linguagem de ciência e tecnologia. (Josias de Souza) Texto Anterior: Nova ordem política traz o fim dos alinhamentos ideológicos Próximo Texto: Encontro discute futuro da política externa Índice |
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