São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Rato de Israel sobrevive com ração 50% menor

RICARDO BONALUME NETO

Roedor e bode do deserto, assim como monge budista, conseguem reduzir metabolismo
Ratos e bodes do deserto têm algo em comum com monges budistas tibetanos: a capacidade de reduzir o próprio metabolismo e sobreviver mais tempo com pouca comida do que outros mamíferos.
O metabolismo mínimo de um organismo é a menor quantidade de energia que ele precisa gastar para manter suas funções vitais, como respiração e circulação sanguíneo.
Se há falta de alimento, o "combustível" do organismo, para que o animal não morra de fome é conveniente que algum modo seja encontrado para diminuir o gasto de energia.
Dois cientistas pesquisando no Museu de Zoologia Comparada da Universidade Harvard descobriram que um rato do deserto israelense conseguiu sobreviver a um regime de prevação alimentar, ao mesmo tempo que ratos comuns de laboratório quase morreram de fome.
"É realmente notável. A mudança do metabolismo foi muito rápida", diz um dos autores da pesquisa, Charles Richard Taylor.
De um dia para o outro o rato do deserto reduziu o metabolismo dramaticamente. " Nós também fizemos experimentos com bodes que mostraram resultados semelhantes", afirmou em entrevista à Folha.
O Experimento feito por Taylor e seu colega Juan Merkt encolveu três ratos machos e uma fêmea da espécie Acomys russatus, que vivem em condições extremas no deserto em Israel. Como comparação, foram estudados também quatro ratos brancos de labroratório.
Os pesquisadores simularam uma carência de comida, típica de um ambiente como o deserto, dando apenas metade do consumo normal de comida dos ratos.
Os animais estavam em "câmaras metbólicas" especiais, nas quais era possível medir o consumo de oxigênio e temperatura corporal e monitorar sua atividade.
O experimento prosseguiu até os animais mostrarem um metabolismo estávelo ou perderem 30% de seu peso. A dupla de pesquisadore não queria, nem podia, matar seus animais de fome.
"O cuidado com os animais e os protocolos do experimento foram aprovados pelo nosso comitê institucional de cuidado animal. Eles estão de acordo com os regulamentos e diretrizes municipais, estaduais em artigo diretrizes municipais, estaduais e federais", escreveram os dois em artigo na revista da Academia de Ciências dos EUA.
Os dois notaram que depois de duas semanas as duas espécies de roedores perderam peso e tiveram uma diminição de metabolismo semelhante. Foi então que surgiram as diferenças.
O rato do deserto continuou a ter seu metabolismo diminuído até um ponto em que estava baixo o suficiente para que o animal mantivese seu peso com a pouca comida que recebia.
Já os ratos brancos perderam ainda mais peso e seu metabolismo aumentou - tanto, que o experimento teve de ser interrompido para não matá-los de fome.
Os ratos israelenses "mantiveram a mesma temperatura corporal enquanto diminuíram o batimento cardíaco e o tônus muscular (contrações musculare contínuas)", declarou Taylor.
A diminuição do metabolismo foi de duas a cinco vezes maior que aquela comum em seres humanos ou ratos brancos. Curiosamente,dizem os dois, resultados parecidos aconteceram em monges budista tibetanos durante meditação.
Como monges e ratos diminuem o metalismo é algo que ainda está sendo estudado (pesquisadores das universidades Havard e Stanford estudam os budistas).
Taylor acredita que algum mecanismo no sistema nervoso pode ser o reponsável pelo controle dos processos que requerem energia.
Outra explicação envolve uma menor atividade da glândula tireóide, pois se notou que um hormônio importante no metabolismo, a tiroxina, costuma ser produzido em menores quantidades em ratos do deserto.
Monges budistas de mosteiro tibetano, capazes de manter baixa atividade metabólica

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