São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Surfista vira isca de tubarão

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O ataque de um tubarão a mais um surfista na praia de Boa Viagem esta semana faz de Pernambuco uma "área de risco". Pelo menos três pessoas foram atacadas nos últimos 20 dias.
A área inclui a praia de Boa Viagem (região metropolitana de Recife), uma das mais visitadas pelos turistas no verão.
Os números de Pernambuco hoje se aproximam dos encontrados nos Estados norte-americanos mais atacados por tubarões: Flórida (que registra uma média de 14 ataques por ano) e Califórnia (com 7 ataques anuais).
Os números mostram que 39 dos 58 casos registrados ocorreram no Norte e Nordeste do país.
Segundo Otto Gadig, da Universidade Federal da Paraíba, o aumento significativo dos ataques a partir da década de 70 (ver quadro ao lado) levanta uma questão antiga entre biólogos: por que tubarões atacam o homem?
Para Gadig, é o homem o responsável pelo aumento dos ataques. Tubarões sempre viveram nos mares. O homem é que foi invadindo o ambiente natural dos peixes e causando desequilíbrios muitas vezes irreversíveis.
O biólogo estuda há dez anos ataques na costa brasileira. Para ele, os ataques estão ligados à popularização dos esportes aquáticos a partir dos anos 70, principalmente do surfe. "É um fenômeno observado em todo o mundo".
Mas o aumento dos ataques na região de Recife pode ter origem em outros fatores, segundo Fábio Hanzin, da Universidade Rural de Recife.
Ele cita um possível desequilíbrio causado pela "superpesca" e pelo aumento da descarga de poluentes na área metropolitana. Isso poderia estar atraindo os tubarões para a costa.
A proximidade de tubarões de grande porte das praias nordestinas também pode estar relacionada à topografia marítima da região.
O fator geológico foi constatado há dois anos. "Observamos a existência de um canal submarino profundo que vai da praia de Pina a Candeias, passando por Boa Viagem", disse Hanzin.
Segundo o pesquisador, o canal serve como eixo de circulação para os tubarões. "Ao entrar no canal, que passa próximo à costa, aumenta a probabilidade de o animal encontrar um banhista ou surfista".
Um canal semelhante também foi observado por Gadig em São Luís. Na capital maranhense, o fenômeno de aproximação de tubarões da orla marítima foi associado também à estiagem.
Os tubarões de grande porte, segundo Gadig, preferem ambientes de alta salinidade. "Isso acontece na época de seca quando a salinidade é superior em relação ao período chuvoso", afirma.
"Com isso, hoje podemos prever a época de maior incidência de tubarões, que vai de outubro a fevereiro".
Superpredadores
Para Gadig, o tubarão-tigre, envolvido nos ataques ao litoral pernambucano, pode ser considerado mais perigoso que o branco (conhecido personagem do filme "Tubarão", de Steven Spielberg).
Segundo o especialista, a espécie não tem preferências alimentares, atinge grande tamanho (até 7,4 metros) e vive próxima à faixa litorânea. Isso a torna potencialmente perigosa.
Surfistas são hoje os mais atacados por tubarões no mundo. De acordo com o biólogo, uma das hipóteses para explicar esse fato seria a semelhança entre os movimentos dos surfistas e de um peixe de grande porte.
"Os surfistas 'ziguezagueiam' e 'furam' ondas como um peixe", diz Gadig.
Outra teoria, já confirmada para o tubarão-branco norte-americano, sugere que tubarões podem confundir um banhista nadando ou surfista remando com uma presa.
Ao olhar para cima, o tubarão vê uma silhueta escura contra o sol. O perfil da prancha e os braços e pernas de um surfista, por exemplo, lembram o de um grande mamífero marinho, como um lobo-do-mar ou foca.
Mas, de acordo com Gadig, nunca foi registrado um ataque deliberado de tubarões ao homem. "Tubarões têm olfato e paladar apurados. Ao sentirem que não é um peixe, pela textura e sabor, soltam a vítima, que normalmente morre de hemorragia".

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