São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Enzima pode trazer chave do câncer

José Reis

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma enzima chamada telomerase poderá servir, na opinião de alguns especialistas, para a produção de antagonitas da proliferação celular no câncer e minorar certas manifestações do envelhecimento.
A enzima foi extraída de protozoários (animais de uma só célula) nos meados da década de 80, porém ainda não está identificada, nem foi isolado o gene responsável por sua produção.
Há dois tipos de células imortais, que podem duplicar-se ao infinito, gerando elementos com as mesmas características: os seres vivos unicelulares e certos tipos de células tumorais.
Essa imortalidade parece ligada à telomerase, que promove a recontrução dos telômeros lesados.
Telômeros são condensações muito especiais de DNA, o material dos genes, existentes nas extremidades dos cromossomos, filamentos que contêm os genes. Acredita-se que sua função seja proteger os cromossomos da degeneração e adesão, pelas pontas, a outros filamentos.
As células humanas não imortais. Ao fim de algumas dezenas de gerações elas param de multiplicar-se, degeneram e morrem.
Quando uma célula, imortal ou não, se divide, os filamentos cromossômicos também se duplicam, e a cada divisão sucessiva, o telômero perde um pouquinho de sua substância.
Mas, se a célula for imortal, a telomerase se encarregará de reconstruir o telômetro à medida que ele se desgastar e, conforme acreditam muitos, estabilizar o tamanho da estrutura inicial.
O organismo humano possui o gene da telomerase, porém não o expressa nem o manifesta depois do nascimento, exceto no testículo que parece usar a telomerase para reconstiruir os telômeros das células reproduras.
Em células humanas submetidas em cultura à ação de vírus cancerígenos, Calvin Harley e Carol Greider observaram que as células proliferam como cancerosas, porém nem todas, ou melhor, só umas poucas manifestavam atividades da telomerase e eram imortais.
As demais, embora apresentando todas as características das tumorais, morriam com o tempo.
Com Silvia Bacchetti, o mesmo Harley descobriu pelo menos num tumor humano expressão da telomerase. Tratava-se do tumor no ovário chamado carcinoma ovariano.
Acredita Harley que a telomerase é uma espécie única de oncogene (fator que provoca a formação de tumores) imortalizante.
Sendo a telomerase a enzima imortalizante de tumores e faltando nas células normais, é claro que ela pode representar excelente alvo experimental para drogas destinadas a conter a expansão de tumores pela supressão de sua imortalidade.
Nesse sentido estão trabalhando vários laboratórios que esperam em uns três anos apresentar drogas anticancerosas para ensaio clínico.
É evidente que, apesar de presumivelmente pequenos em relação aos tratamentos convencionais, os riscos dos novos produtos para a saúde deverão ser cuidadosamente controlados, especialmente quanto à produção de espermatozóides e à ação sobre as células martriciais do sangue, do revestimento intestinal, da medula óssea e de outros pontos de substituição celular.
Outro objeto possível do uso terapêutico da telomerase é introduzi-la em células em degeneração, para tentar obter novamente o crescimento dos telômeros e assim desfazer as degenerações do envelhecimento e, quem sabe, conseguir o rejuvenescimento.

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