São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994 |
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O papa revela as suas razões
MARCELO MUSA CAVALLARI
"Não interessa um papa que muitos gostariam de ver reduzido a presidente de uma espécie de agência mundial para a ética, para a paz ou para o meio ambiente; um papa como fiador do novo dogmatismo do politicamente correto", explica o jornalista Vittorio Messori na introdução do livro. É claro que um papa se ressente do peso do cargo. Mais do que qualquer líder o papa "encarna" a instituição que chefia. A necessidade de falar em absoluto acordo com a doutrina católica e na direção necessária à Igreja em um determinado momento fazem com que cada escrito oficial do papa traga dele muito mais a autoridade do que a autoria. Não que o papa tenha aproveitado a oportunidade de escrever o livro para dar vazão a idéias heterodoxas ou se contrapor aos interesses da Igreja. A novidade é que no livro pode-se ouvir mais a pessoa que representa a Igreja do que a Igreja que ela representa. As perguntas formuladas por Messori destinavam-se a um programa da TV italiana comemorativo dos 15 anos de pontificado de João Paulo 2º, completados em 93. As perguntas já haviam sido entregues por escrito quando o papa desmarcou a entrevista mas, meses depois, chegou às mãos de Messori um envelope com as respostas do papa. Elas formam "Cruzando o Limiar da Esperança". Parte da surpresa do livro deriva de um decisão de Messori. O jornalista –que logo na introdução deixa clara sua condição de católico– decidiu "descartar os temas políticos, sociológicos ou também clericais que constituem a quase totalidade da assim chamada informação (ou desinformação) 'religiosa' que circula na mídia". Assim, o papa responde se Deus existe, se Jesus é Deus, por que existe o mal, se o papa é mesmo o vigário de Cristo na Terra. As respostas pertencem à doutrina comum da Igreja, mas ouvir o papa dando conta de como ele as experimenta e resolve pessoalmente é uma oportunidade única. "Nenhuma estatística que pretenda apresentar quantitativamente a fé atinge o âmago da questão", diz o papa. É esse âmago que discute e põe em contraposição ou diálogo com pensadores como Kant, Lévinas, Scheller. O papa apresenta suas "razões para crer que a verdade sobre a Cruz seja chamada de Boa Nova". Complementar ao estereótipo do "papa conservador" atacado pelo senso comum liberal-moderno, surge do livro a do homem que sabe por que pensa na contracorrente do politicamente correto. "O Evangelho é sem dúvida exigente", diz, lembrando que Jesus preparava seus discípulos "para toda espécie de dificuldades internas e externas, levando sempre em conta o fato de que podiam também decidir deixá-los". Texto Anterior: Dança relaxa elite do Haiti Próximo Texto: Leia alguns destaques de ontem na imprensa internacional: Índice |
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