São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Klein, o rei do estilo clean

KORO CASTELLANO

Por Koro Castellano, do "El Pais"
Criado no bairro do Bronx, em Nova York, o estilista Calvin Klein comemora 25 anos de reinado no mundo da moda. O padrinho da superesguia top Kate Moss condena a paranóia das mulheres por regimes e exercícios. Mas diz que suas roupas –sempre básicas e no estilo "natural"– caem melhor nas magras
–Você lembra quando fez seus primeiros esboços?
–Provavelmente tinha uns 5 anos. Acho que é um dom herdado de minha mãe. Ela tembém desenhava.
–Foi difícil passar do Bronx ao sofisticado mundo da moda?
–Minha família nunca ligou para o Bronx. Minha mãe achava que vivia em Park Avenue! Adorava roupas e gastava quase todo o dinheiro de meu pai em trapos. Desde pequeno, ela sempre me vestia todo de branco. Crescer no Bronx só significa que se quer sair de lá. E na América, se você trabalha, tem talento e quer alcançar algo, pode fazê-lo.
–Até que ponto sua mãe influenciou sua carreira?
–Eu herdei praticamente tudo dela. Ela se vestia sempre de branco e adorava as cores naturais. Tinha muitíssimo estilo. Se gabava para seus amigos dizendo que eu seria famoso um dia. Ela e meu pai me deram autoconfiança.
–Você nunca teve dúvidas sobre seu futuro?
–Não. Demorei a me sentir seguro do que fazia, mas nunca duvidei que esta seria minha profissão. Estava predestinado.
–O que queria atingir quando começou?
–Não sei. Para dizer a verdade, nunca penso no passado, até que apareça uma entrevista... Estou muito ocupado e não tenho tempo para pensar nos velhos tempos. Trabalho sem parar e meu tempo livre dedico a andar de bicicleta, de caiaque, fazer exercícios, ler, ir ao cinema. Não gosto de voltar ao passado.
–Mas queria lançar algo novo no mundo da moda, não?
–Sim. Quando frequentava a escola de desenho, sempre pensava que os estilistas faziam roupas para mulheres-enfeite, que serviam de decoração para os homens. Eu queria dar relevância às mulheres por elas mesmas.
–Como você descreve o estilo Calvin Klein?
–Como algo muito americano, muito puro, muito minimalista, sem ornamentos. Roupa moderna feita para a mulher moderna.
–O que você entende por "mulher moderna"?
–É uma mulher que ocupa cargos importantes, que luta por sua independência e que, ao mesmo tempo, cuida da casa. Sua idéia de luxo não é usar salto alto nem decotes enormes.
–Que tipo de roupa essa mulher moderna precisa?
–Sexy, suave, fácil, confortável. Limpa, sem enfeites.
–Essa descrição também pode definir a elegância?
–Acho que a verdadeira elegância é a da mulher que se veste com minhas criações e acrescenta a elas algo de si mesma. Isso é estilo. As mulheres que compram minha coleção gostam da moda, desde que esta não lhes faça parecer idiotas. Se a moda não realça a mulher, ela não tem sentido.
–Você é considerado o termômetro da cultura americana. Como adivinha o que as pessoas querem?
–Eu procuro estar em dia, saber o que se passa. Além disso, vivo em Nova York, onde ocorrem muitas coisas a todo momento. É muito interessante ver as mudanças das mulheres, do estilo. O melhor da moda são essas mudanças. Seria horrível de outra maneira! Não posso me imaginar trabalhando em algo sempre igual. Isso me mantém interessado. Procuro estar atualizado, esquecer o passado e não pensar no futuro.
–Como vive a década de 90?
–É muito diferente. Os anos 70 foram divertidíssimos! (risos). Os 80, ao contrário, não me agradaram. Foi um período de ostentação, de excesso, de mudança de valores. Os 90 significam a retomada de antigos valores, como a fidelidade, a família, o amor, o meio ambiente. Tudo isso reflete na roupa: sem brilhos, nada pretensiosa. Os 90 são mais naturais.
–Alguma previsão para o século 21?
–Não tenho a menor idéia!
–Não planeja as coisas com antecedência?
–Não com tanta antecedência. Não tenho uma bola de cristal! O que faço é desenhar me baseando no que vejo e no meu gosto pessoal. E parece que funciona. Sempre agrada.
–Nunca cometeu erros?
–Ah! Muitíssimos! Poderíamos fazer uma longa entrevista sobre meus erros. Só se comete erros quando se arrisca.
–Você tem fama de perfeccionista.
–É uma doença: sofro de perfeccionismo. Não há dúvida. Sempre me aconteceu e é parte do meu êxito.
–Incomoda quando dizem que você é o Armani americano?
–Armani é um grande estilista e nós gostamos do mesmo tipo de roupas e texturas. Nos Estados Unidos me comparam com Ralph Lauren ou com Donna Karan. Essas comparações não têm importância. Elas vêm do sucesso que você tem, do dinheiro que ganha e da posição que mantém.
–Os jeans e as cuecas que levam seu nome são clássicos. Gostaria de passar à história por quais criações?
–Os jeans e as cuecas são o mais óbvio. Gostaria de ser lembrado por ter dado aos americanos roupas bonitas, boas, de bom gosto. E, provavelmente, não será por causa disso que passarei à história! (risos). Mas acho que essa é a minha verdadeira contribuição para a moda.
–Que porcentagem de seu sucesso pode ser atribuída às suas campanhas publicitárias?
–A publicidade é importante em qualquer negócio. Mas o produto deve ser bom. Os anúncios também.
–Quanto mais polêmica melhor?
–Os anúncios têm que ser bons, não polêmicos.
–Os seus conseguem ser as duas coisas.
–Juro que minha intenção nunca foi fazer coisas que provocam polêmica. Mas não tenho medo de me arriscar. Trabalho com os melhores fotógrafos, estilistas e diretores de arte porque quero resultados brilhantes. Quando fizemos aquele anúncio com Brooke Shields, nos anos 70, não pensei que fosse provocar aquela controvérsia ridícula!
–Mas te agradou.
–Sim, mas não foi a minha intenção. Queria excitação, não polêmica.
–Agora você tem outra polêmica nas mãos. Os anúncios com a modelo Kate Moss estão cobertos de pichações, acusando-a de promover a anorexia.
–Infelizmente, esse é outro problema. Com todo o avanço das mulheres, elas têm uma enorme obsessão por magreza. É uma paranóia. E Kate as faz lembrar de tudo isso.
–Como a descobriu?
–Patrick Demarchelier me mandou umas fotos dela, pois sabia que eu estava procurando uma mulher diferente. Não queria ninguém que tivesse a ver com as modelos em voga, que eram Cindy Crawford, Claudia Schiffer, grandes corpos, grandes peitos, tudo excessivo. Isso era um reflexo dos anos 80, do hiperglamour. Os 90 não são assim. Kate é o contrário: pequena, natural. É magra, mas come. Mesmo assim, as pessoas se preocupam com seu aspecto.
–O que você viu nela?
Kate é uma menina-mulher. Não queria uma supermulher. Eu não promovo, nem sou a favor da anorexia! Mas acho que se vou mostrar minhas roupas, prefiro mostrá-las em pessoas magras. A roupa cai melhor em pessoas magras e que cuidam do corpo. A imagem é importantíssima.
–Essa "imagem" também se aplica a você: moreno, perfeito, milionário, bem casado... Parece demais para ser verdade.
–Agora eu tomo muito menos sol. É perigoso. E quanto à minha imagem, você está certo. Sou feliz, muito feliz. Que posso fazer para evitar isso?
–Você não tem que se desculpar.
–Sim, porque às vezes me acho um pouco grosseiro. Não que tudo seja perfeito. Há dias que são como um pesadelo e outros em que toco o céu. Mas sou feliz e eu insisto em me desculpar.
Tradução Claudia Gonçalves

Texto Anterior: JOÃO MARCELO BOSCOLI
Próximo Texto: É fria!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.