São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 1994
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Desorganização e violência marcam torneio que consolida o 'efeito Copa'

VALMIR STORTI
DA REDAÇÃO

Os clubes de futebol do Brasil estão valorizando cada vez mais a posse de bola e a utilização de lançamentos como armas para se chegar ao ataque.
É o que confirmam as estatísticas do Campeonato Brasileiro, encerrado ontem com o novo título palmeirense.
A tendência já havia sido detectada ao se analisar os números da seleção brasileira tetracampeã no Mundial dos EUA.
Na Copa do Mundo, o tradicional toque de bola ofensivo dos atacantes brasileiros acabou substituído pela armação de jogadas objetivas, à base de lançamentos.
Ao se comparar o Brasileiro do ano passado para o de 94, houve um acréscimo de 7,5% na quantidade de passes trocados entre os jogadores.
Exemplo: nos jogos do Campeonato Brasileiro de 1993, cada time costumava dar 344 passes, em média. Este ano, o número subiu para 370 (10% a mais).
Nas últimas Copas, a média do Brasil subiu de 350 passes (1986) para 424 (1990) e 566 (1994).
A eficiência dos passes no Brasileiro também se aproximou do padrão de uma Copa do Mundo.
No campeonato de 93, a precisão dos times era de 76,5% nos passes, contra 78,4% deste ano, ficando a 3,1 pontos percentuais do Mundial (aproveitamento de 81,5% dos passes executados).
A frequência de lançamentos também cresceu no Brasileiro, outra característica da seleção de Carlos Alberto Parreira.
Na Copa dos EUA, em que as demais seleções tinham uma média de 20 lançamentos, a seleção brasileira fazia 24, aproveitando a velocidade de Bebeto e Romário nos contra-ataques.
Em 90, a média das seleções foi de 14 lançamentos. Em quatro anos, um aumento de 42,85%.
No Brasileiro, as equipes passaram dos seis lançamentos no ano passado para 11 no campeonato de 1994 (83,33% de aumento).
Essas variações não alteraram o mais importante: a quantidade de finalizações. Assim como em 93, cada equipe deu no Brasileiro 13 chutes a gol (5 certos).
Na Copa, o time de Parreira finalizava 17 vezes (7 certas).
Os dois finalistas do Brasileiro têm um aproveitamente melhor, embora chutem menos se comparados com a seleção. O Palmeiras chutou 16 vez a gol (sete certas) e o Corinthians 15 (seis certas).
Se em campo o Brasileiro confirmou o "efeito Copa", nas arquibancadas o sucesso de público do Mundial dos EUA não teve repercussão no Brasil.
O afastamento dos torcedores é uma tendência que vem ocorrendo desde 1992.
Com exceção do Brasileiro de 1979, nenhum outro teve um comparecimento de público tão pequeno como este ano.
No final da década de 70, uma média de 9.136 pessoas via cada um dos 581 jogos de um torneio superdimensionado, com a participação de 96 clubes.
Este ano, com 24 participantes, a média não chegou a 10 mil pessoas por partida.
Sem contar o jogo de ontem (levando-se em consideração que alguns jogos não tiveram a renda e o público divulgados), uma média de apenas 9.963 pessoas viram os jogos "in loco".
A interdição do Morumbi e a indefinição quanto ao local dos jogos das finais também contribuíram para o esvaziamento dos estádios nesta fase final.
A final de 1990, entre São Paulo e Corinthians, teve um público de 100.858 pessoas no Morumbi. A do ano passado, quando o Palmeiras derrotou o Vitória, teve 88.644 pagantes.
A violência das torcidas, dentro e fora dos estádios, pode ser apontada como o principal motivo da fuga dos torcedores.
Os esquemas especiais de segurança da polícia não foram suficientes para tranquilizar o torcedor. O caso mais recente -a morte de um corintiano na última quinta-feira, com um tiro na cabeça, quando voltava para casa– é o melhor exemplo de que o policiamento nas proximidades do campo não é suficiente.
O regulamento do Brasileiro também colaborou para afugentar a torcida. Com a preocupação de manter as equipes em condições de permanecerem no campeonato o maior tempo possível, a competição foi dividida em três "fases" de classificação.
O regulamento acabou criando vários jogos sem interesse.
Apesar dos diversos pontos negativos, o Brasileiro mantém sua capacidade de revelar talentos.
As novas promessas ocupam três posições na seleção do campeonato votada por jornalistas para a Folha (leia quadro abaixo).
A maior revelação é Amoroso. Com 20 anos, o artilheiro do campeonato (ao lado de Túlio), com 19 gols, recebeu elogios do técnico da seleção, Zagalo, e foi eleito com 17 votos em 18 possíveis.
O volante Zé Elias, 18, também já foi convocado para a seleção de juniores. Na seleção da Folha recebeu 11 votos e jogaria ao lado do lateral-direito Pavão, 20, do São Paulo, que recebeu seis votos.

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