São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 1994
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E Rivaldo conduz o Palmeiras à glória

Futebol deitou e rolou no Brasileiro

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Era tudo o que o Corinthians queria: um gol logo aos 2min de jogo, após o Palmeiras perder o gol duas vezes seguidas.
Parecia que o impossível estava sendo tramado nas sombras da grande decisão. Mesmo porque o Corinthians ia acumulando situações de gol, umas sobre as outras.
É verdade que o Palmeiras, no contragolpe, também. E assim foi até o instante das expulsões, já no segundo tempo. Isso, mais a entrada providencial de Amaral, foram derruindo o Corinthians e estimulando o Palmeiras, que chegou ao empate, ao título e à glória final.
E, mais uma vez, graças a Rivaldo. Isso vai muito além de mera coincidência. É quase um sortilégio.

Findo o campeonato, fim de ano, época de balanço. E se o futebol brasileiro varou mais uma temporada sob o signo da incompetência fora das quatro linhas, na grama, deitou e rolou.
Comecemos por onde se começa a escalação de um time, o gol: Zetti cumpriu uma campanha impecável, embora seu time não tivesse ganho nada.
Cada vez mais, firma-se como o mais completo goleiro brasileiro, aquele que reúne todos os elementos indispensáveis à posição: porte físico, elasticidade, colocação, reflexos apurados, coragem, frieza, seriedade, aplicação nos treinamentos, discrição e perícia na devolução da bola ao jogo.
Mas Ronaldo quase chegou lá, ao livrar-se dos tiques juvenis que lhe conferiam certa antipatia. No Brasileirão, Ronaldo, até pela campanha de seu time, ganhou de Zetti. E Velloso, sempre tão questionado no Palmeiras, virou herói na reta final. Mas só na reta final.
Na lateral-direita, mais pelas ausências frequentes de Cafu, deslocado para o meio-campo, apenas Índio, do Santos, se destacou. É uma posição fundamental no futebol moderno, e chega a ser preocupante não termos por ali um número significativo de valores. Tanto que Bruno, do Vasco, convocado por Zagalo para a reserva de Jorginho na seleção, pouco atuou, como resultado de desavenças com seu treinador.
Na zaga central, o duo palestrino Antônio Carlos e Cléber jogou em perfeita sintonia. Mas a grande revelação foi a dupla Cláudio, do Guarani, e Agnaldo, do Grêmio, enquanto Júnior Baiano foi a maior surpresa, quando deixou de dar pontapé e passou a jogar bola. Pena que Célio Silva tenha se machucado, ficando de fora de toda a fase final, pois vinha cumprindo performance irretocável.
Já na lateral-esquerda, Roberto Carlos foi, disparado, o melhor. André, que se revelou no início da temporada, caiu no final, enquanto Guilherme, do Guarani, crescia a cada rodada.
No meio-campo, um verdadeiro melê de talentos: César Sampaio foi perfeito, defendendo, atacando e ditando o ritmo de seu Palmeiras, mas Dinho, do Santos, Zé Elias, do Corinthians, Nelson, do Botafogo, Fernando, do Guarani, todos merecem destaque.
Assim como, completando o setor: Zinho, pela regularidade, Souza, Amoroso, a grande revelação do ano, Rivaldo, Sandoval, sei lá quantos mais, pois não vi com tanta frequência os demais.
Mas dois jovens surgiram com muito potencial nessa zona do campo: Giovanni, do Santos, e Denilson, dos garotos do São Paulo que sonham com o único título tricolor deste ano.
Na frente, então, uma relação infindável, que começa com o menino Ronaldo e termina com Luisão, aquele que, segundo o Matinas, vale por dois, passando por Viola, Marques, Sávio, Reinaldo, aquele Mirandinha lá de cima e –atenção!– Evair, que marcou mais de cinquenta gols no ano. Quanto a Marcelinho, simplesmente foi o melhor jogador do Brasil.
Espremendo, espremendo, a seleção do ano dos que vi em ação com maior frequência, é a seguinte: Zetti; Índio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Amoroso, Sousa e Viola (pelo primeiro semestre); Marcelinho e Sávio.
Tá bom?

Sir Lancellotti me corrige: o gol de Paulo não foi contra o Palmeiras e sim contra o Santos. Foi mesmo, desculpem. Mas, no caso, a ordem dos fatores não altera o produto.

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