São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Recordações sobre o jogador de mil pés

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o Rivaldo, o homem de mil pés, a centopéia (como disse o Alberto Helena Jr.), acabou sendo o grande personagem da conquista do bicampeonato pelo Palmeiras.
Quando os quatro cavaleiros do carrossel caipira do Mogi Mirim vieram para o Corinthians, as estrelas eram o Válber e o Leto. À época, fiquei impressionado com uma declaração do seu treinador no MM.
Vadão disse: prestem atenção no Rivaldo, ele é um dos jogadores mais modernos do futebol brasileiro. Até então, Rivaldo só era lembrado por ter realizado o gol esboçado por Pelé na Copa de 70.
(Rivaldo conseguiu fazer o gol sonhado por todo artilheiro: aquele marcado com um chute disparado da meia-cancha).
Corta. Minha última imagem do Rivaldo era a da tristeza, a da angústia, da decepção daquele ainda quase menino grande, de terno desajeitado, no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.
Ele havia sido saudado como a melhor esperança para o meio-campo brasileiro pelo técnico Carlos Alberto Parreira. Havia sido o principal jogador brasileiro no amistoso contra o México, em 1993.
Mas Rivaldo (assim como Edmundo), não jogou bem contra um combinado de dois times franceses, no Parque dos Príncipes, às vésperas da convocação. Sentiu que estaria fora da Copa nos EUA.
Ali no aeroporto e depois na escala do Rio, Rivaldo era o mais abatido. Aquele menino nordestino, como tantos imigrantes, chegara perto da glória. E, agora, sentia que ela escapava pelos seus pés.
A partir daí, foi uma espécie de inferno na vida de Rivaldo (aliás, quem olhava para ele, dificilmente poderia acreditar que aquele corpo todo, mal equilibrado nas pernas tortas, poderia jogar futebol).
Volta ao MM, negociação difícil com o Corinthians, má fase, palmeirenses contra a sua contratação, sentimento (partilhado por esta coluna, diga-se de passagem) que bateria cabeça com o Zinho etc.
Pois bem, Rivaldo está de novo no lugar que sempre mereceu. Em parte, por seu talento, por sua dedicação, por seus sete fôlegos, pela sua concentração no jogo, pela sua calma ao finalizar.
Em parte, pela sorte que teve com os técnicos. Vadão descobriu o diamante. Mário Sérgio lapidou. E Wanderley Luxemburgo o incrustou em uma bela jóia.
E Wanderley Luxemburgo está certo ao afirmar que o seu melhor lugar é um pouco mais à frente. No campo e na vida.

Esta coluna disse que o Wanderley Luxemburgo armou a arapuca dos três volantes para o Jair Pereira, no primeiro jogo das finais. No domingo, ele confirmou o fato, durante o "Cartão Verde".
Às vezes a gente acerta.

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