São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Mercocidadãos

Com a criação de uma união aduaneira, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai dão a partir de 1 de janeiro próximo um decisivo passo rumo à integração regional. Além de não taxarem a circulação de mercadorias dentro do bloco, os quatro países vão unificar as tarifas cobradas sobre produtos importados de outras nações.
Restarão algumas exceções, que afetam apenas cerca de 15% do comércio da região e serão eliminadas até 2006. Mas já a partir do mês que vem cria-se um novo mercado com um PIB total de mais de US$ 620 bilhões (inferior apenas ao da União Européia, EUA e Japão).
O estímulo econômico representado pelo bloco já se fez sentir. As importações brasileiras dos demais países do Mercosul subiram 50% desde 1990, enquanto as exportações saltaram mais de 300%.
O mercado ampliado beneficia consumidores de todos os países, que terão acesso a bens mais baratos, mas trata de forma diversa os diferentes segmentos econômicos. A indústria brasileira, por exemplo, parece no geral mais bem preparada para enfrentar a competição e deve beneficiar-se da união aduaneira. Já o setor agropecuário argentino espera engordar suas fatias de mercado no novo bloco.
A equação decerto não é tão simples e vai depender da capacidade de adaptação e da competitividade de cada segmento ou empresa. De todo modo, apesar de impactos negativos pontuais, a liberalização comercial tende a elevar o nível de produção e a estimular a eficiência geral de todo o mercado –efeito particularmente importante num mundo cada vez mais competitivo.
Os avanços no Mercosul são positivos também no plano internacional, ao criar um interlocutor de maior peso e importância do que seus membros isolados. Mostra disso foram as recentes conversações com a União Européia e com os países das Américas acerca da criação de zonas de livre comércio.
Por fim, é oportuno relembrar o papel que o Mercosul pode assumir como mecanismo capaz de fortalecer os regimes democráticos na América Latina. Se o objetivo mais explícito da integração é econômico, é sempre bom lembrar que economias de mercado mais fortes são provavelmente a melhor âncora que se pode desejar para a consolidação da cidadania –desafio recente em vários dos nossos países.

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