São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Economistas X políticos

Ex-ministros, ex-presidentes do Banco Central, alguns dos mais respeitados consultores e professores de economia reuniram-se em Florianópolis no Encontro dos Centros de Pós-graduação em Economia entre 14 e 16 de dezembro. Economistas do governo não participaram. A política cambial foi o centro das discussões e a identificação de erros em sua condução foi o tom comum à maioria das análises.
A valorização do real foi considerada excessiva. A taxa de R$ 1,00 a US$ 0,85 seria insustentável em um horizonte de tempo mais dilatado.
Ibrahim Eris, ex-presidente do BC, apontou a queda de 15% do dólar não apenas como exagerada, mas também como parcialmente inócua. Por ser excessiva, a valorização cambial não teria sido incorporada aos preços pelas empresas brasileiras que julgam R$ 0,85 por US$ 1 uma taxa cambial insustentável no longo prazo.
Para Eris, portanto, as empresas não se ancoraram a essa cotação do dólar. O prejuízo à indústria nacional seria maior do que o ganho no combate à inflação. Como uma medicação superdosada, a valorização da moeda nacional poderia intoxicar o paciente sem trazer-lhe necessariamente uma cura mais eficaz.
Partindo dessa avaliação, Eris propôs que o câmbio fosse corrigido o mais rapidamente possível. Tal correção permitiria fixar o dólar por um período mais longo –melhor do que uma paulatina desvalorização do real até que se atingisse o teto de US$ 1 por R$ 1.
Nesse aspecto, porém, houve ampla discordância. Vários economistas avaliam a valorização cambial como erro irreversível. Mais ainda, vários setores estão em seus limites de produção. Uma correção agora certamente sancionaria uma nova rodada inflacionária.
Para aliviar a âncora cambial alegam ser necessário substituí-la por outra. Somente um vigoroso e consistente ajuste fiscal dará credibilidade à política econômica e estabilidade duradoura à moeda.
Mas aí precisariam sair de cena os economistas para dar lugar aos políticos.

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