São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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O velho novo Congresso

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A impressão preliminar que vários deputados estão tendo do futuro Congresso confirma avaliação feita logo após divulgados os resultados: mudaram muitos nomes, mas mudou pouco a característica do Congresso ou, ao menos, da Câmara dos Deputados.
O grupo dito "programático", goste-se ou não do programa de cada um de seus integrantes, não deve ter mais do que 50 representantes, o que dá, portanto, menos de 10% da Câmara.
Os outros dois grandes blocos são, como eram na Câmara anterior, o fisiológico e o paroquial.
É claro que se trata, ainda, de primeira impressão, pelo óbvio motivo de que os novos parlamentares nem sequer assumiram. Mas é mais razoável acreditar em que tal impressão se consolide do que na hipótese inversa, ou seja, a de que o Parlamento brasileiro venha a ganhar altura a partir do ano que vem.
A primeira consequência dessa avaliação é enfatizar as dificuldades para reformas estruturais que minem o clientelismo, o fisiologismo e o paroquialismo, como o são algumas das reformas que o governo Fernando Henrique Cardoso considera indispensáveis.
Na prática, a chance de as reformas serem feitas de acordo com o figurino esboçado pelo novo governo passa pela saúde do Plano Real. Enquanto ela for boa, como parece ser hoje, o governo tem força intrínseca. A oposição programática é numericamente reduzida e os blocos fisiológico e paroquial não têm coragem para se opor ao governo quando o governo é ou está popular.
É claro que vale o raciocínio inverso: enfraquecido o plano e, por extensão, o governo, o bloco fisiológico/paroquial se sente mais forte. Como parte desse bloco tem nítida representação no governo, o jogo ficará cada vez mais difícil à medida que o tempo passar.
PS - O texto "Serra força FHC a dar destaque à área econômica", publicado domingo à pág. 1-8, foi reduzido brutalmente, por motivos de espaço, com o corte de parágrafos inteiros e o consequente esvaziamento total de informações e de raciocínio.

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