São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Mais ciúme à vista

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Se efetivada, uma idéia ainda em fase de estudo vai triplicar a ciumeira (já considerável) em torno de José Serra: colocar sob sua supervisão o programa Comunidade Solidária. É o principal projeto social do futuro governo, imaginado inicialmente para ficar subordinado ao presidente da República.
O programa Comunidade Solidária é ambicioso: simplesmente coordenaria os programas sociais e assistenciais dispersos pelos ministérios. É previsto um secretário-executivo e um conselho composto pelos ministros. O cargo foi oferecido a Euclydes Scalco, que recusou.
A concepção do programa é, diga-se, interessante: evitar as trombadas dos projetos sociais que, por serem dispersos, perdem eficácia. Óbvio que as ações devem ser integradas: nutrição, educação, saúde, geração de renda, saneamento básico.
Óbvio também que esse programa tem extraordinária força eleitoral e política, justamente por afetar as camadas mais pobres e vulneráveis –a ele seria ligado, por exemplo, a campanha contra a fome.
Claro que se acabar mesmo no Ministério do Planejamento será reforçada a suspeita de que José Serra virou um superministro. Nenhum ministério será, de fato, tão forte –especialmente porque, em Brasília, ninguém acredita que Pedro Malan conseguirá sobreviver ao supostamente previsível conflito com o Planejamento.
A julgar pela taxa de intrigas entre os futuros ocupantes da Esplanada dos Ministérios, a Comunidade Solidária é capaz de padecer por falta de solidariedade dentro do governo.
A verdade é que, por enquanto, Fernando Henrique não está cumprindo sua promessa de colocar os temas sociais em primeiro plano. Ele continua tratando os ministérios sociais como categorias de segundo escalão.
PS – Para se ter uma idéia do colapso dos ministérios sociais, basta ver uma revelação oficial transmitida ontem à Folha: o Ministério da Saúde informa que não consegue fiscalizar os bancos de sangue públicos e privados. Daí se vê até onde vai a orfandade do cidadão brasileiro.

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