São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 1994
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Deputados do PP pedem cargo em cafezinho

LUCIO VAZ EUMANO SILVA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Nós não queremos uma Mercedes, mas sim 20 bicicletas". A frase, pronunciada por um deputado do PP, deu o tom de uma conversa em que representantes do partido discutiram abertamente com Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), candidato à Presidência da Câmara, a troca de apoio político por cargos.
A Mercedes –carro alemão de luxo, cujo modelo mais sofisticado pode custar até R$ 191 mil- foi usada pelos deputados para designar o ministério que não tiveram. As bicicletas foram empregadas para indicar cargos de primeiro e segundo escalões.
Os parlamentares do PP mostravam-se desconsolados com a ausência de nomes do partido na equipe do futuro governo. E pediram que Luís Eduardo fosse porta-voz do partido junto a FHC.
Solícito, Luís Eduardo prometeu encaminhar as reivindicações a FHC: "Vou falar com ele. Ainda há espaços indefinidos", disse.
O encontro ocorreu no cafezinho do plenário da Câmara, um espaço onde os parlamentares costumam se reunir após as sessões.
A reportagem da Folha ouviu trechos da conversa pela fresta da porta. Nem todos os interlocutores puderam ser identificados.
Segundo o seu raciocínio, o controle de órgãos como "o Incra e o DNER são mais importantes porque têm ramificações nos Estados". Os deputados do PP explicaram que recorriam a Luís Eduardo porque as lideranças do partido teriam fracassado na tentativa de conseguir um ministério.
"O Álvaro Dias (presidente nacional do PP) fez um esforço, mas ele perdeu a eleição. Já o Joaquim Roriz (PP-DF) foi até o Fernando Henrique junto como Andrade Vieira (PTB-PR). Estamos sem liderança", disse Flávio Derzi (PP-MS), de voz inconfundível.
Em reconhecimento à atenção do líder do PFL, um dos deputados propôs definir uma data para anunciar o apoio oficial do PP à candidatura de Luís Eduardo à Presidência da Câmara. O PP dispõe de 37 votos na Câmara.
Os deputados falaram também sobre a possibilidade de o presidente da Fundação Nacional de Saúde, identificado apenas como Álvaro, ser o representante do PP no novo governo.
Ouviu-se novamente a voz de Flávio Derzi: "Fiquei três meses ligando e não consegui audiência com ele. Se for ele o representante do PP, não terei compromissos com o governo".
Outro parlamentar quis saber quando seriam distribuídos os cargos de segundo e terceiro escalões (cerca de 2 mil). Luís Eduardo informou que será depois de fevereiro. "É preciso esperar a posse dos novos deputados", disse.
Terminada a conversa, os parlamentares deixaram o cafezinho em grupo. A Folha contou 15 deputados, sem incluir Luís Eduardo.
Álvaro Dias, que não participou da conversa, disse ontem à Folha que não basta oferecer ao PP a presidência da Itaipu Binacional.
A bancada do PP se reúne hoje em Brasília. Entre os temas em discussão, estará o apoio do partido ao futuro governo.

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