São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 1994
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Helena Meirelles faz show do primeiro disco

DA REPORTAGEM LOCAL

Eleita a guitarrista revelação do ano passado por uma das revistas de música mais prestigiadas do mundo, a norte-americana "Guitar Player", a violeira e violonista mato-grossense Helena Meirelles lança agora seu primeiro disco.
E para divulgá-lo Helena faz uma mini-temporada no teatro Hilton. Hoje é o último dia para quem quer ver a pantaneira tocar seu rasqueado –uma derivação da polca paraguaia.
Helena toca desde os nove. Mas foi preciso que uma publicação estrangeira a descobrisse aos 70 para que o Brasil começasse a conhecê-la.
Com a saúde debilitada por problemas respiratórios, foi com muito esforço que ela deixou registrado em disco suas músicas e causos. A violeira gravou o disco em setembro e saiu do estúdio direto para o Hospital Sírio e Libanês, onde passou um mês.
"Gravei por Deus. A pneumonia veio montar nas minhas costas", recorda ela, que já teve tuberculose em 81.
Por isso, ela canta em apenas quatro das 13 faixas do disco –que traz cinco pequenos causos pantaneiros. Além disso, ela toca viola caipira, violão e violão dinâmico.
Helena conta que seu médico garantiu que ela estará em forma daqui a seis meses. E ela promete que no próximo disco cantará mais. "O fôlego foi ficando curto", lamenta.
Além disso, Helena tem proposta para lançar um disco ao vivo nos Estados Unidos por um selo pequeno de San Francisco especializado em música regional americana.
Nos shows, Helena toca, canta e conta causos. Dependendo do humor ela carrega a mão em um dos três itens. "Quando converso muito o show acaba mais ligeiro", ri.
Nas apresentações, Helena é acompanhada pela família –o filho, Francisco Machado (violão) e os sobrinhos, Milton Araújo (violão baixo) e Mário Araújo (violão).
Esse ano foi a primeira vez em que tocou em uma grande cidade. Bem diferente da época em que costumava animar bailes em prostíbulos no pantanal.
"A gente começava a tocar, a mulherada começava a beber. Daí a pouco, mulher ficava nua. Ali no meio eles faziam tudo. De vez em quando saía tiro. E os homens sentavam a guaiaca no lombo da mulherada (batiam com um cinto de fivela dupla)."
"Agora é quieto. Só aplaudem na hora em que a música pára", conta com certa nostalgia. Do tempo no bordel ficaram as histórias, que ela serve para os habitantes da cidade grande.
No show ela explora o folclore, inclusive o próprio. Como a mania de tocar com uma palheta de chifre de boi. "Palheta de 'prástico' e corda de nylon não é comigo. Eu gosto de coisa que 'tine' ", diz.
Mesmo com tanta badalação, ainda há espaço para modéstia pantaneira. "Eu 'tô' com 70 anos e não sou artista. Eu imito".

Artista: Helena Meirelles
Onde: Teatro Hilton (av.Ipiranga, 165, região central, tel. 259-6508)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: R$ 15
Disco: Helena Meirelles
Gravadora: Eldorado
Preço: R$ 18 (o CD, em média)

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