São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Peixe à la Serra

Gilberto Dimenstein
BRASÍLIA – Em torno de um peixe assado e arroz com brócolis, José Serra produziu ontem encenação engraçadíssima num restaurante de Brasília, onde almoçou com Pedro Malan.
A cena foi preparada para tentar convencer a opinião pública de que existiria harmonia entre os futuros ministros do Planejamento e Fazenda.
Na noite anterior, Serra e seus assessores começaram a vazar a jornalistas de rádio, televisão e jornais sobre o "discreto" encontro. Óbvio que um batalhão de repórteres aguardava os comensais.
Engraçado é que, depois de toda a preparação, Pedro Malan disse estranhar a presença de tantos jornalistas. Ele minizou: "Foi um encontro de dois economistas do governo, que nem mereceria esse acompanhamento todo de jornalistas". Parecia, de fato, surpreso com tanta cobertura.
Moral da história: ao tentar mostrar um bom relacionamento, Serra já começou enganando Pedro Malan. Com o tempo, os jornalistas políticos acabam aprendendo que os personagens do poder, apesar de sisudos, são uma ótima fonte de humor.
A aposta aqui em Brasília é de que, mais cedo ou mais tarde, os dois vão se enfrentar. Mais: Malan corre o risco de acabar com a mesma consistência do peixe assado servido no restaurante.
Vai depender, entretanto, da habilidade de Fernando Henrique Cardoso em administrar seu ministério –o que, diga-se, é uma incógnita. Basta ver que ele fritou seu ministro da Fazenda antes mesmo de ter óleo na frigideira.
PS – Por falar em política, humor e armações, Carlos Castello Branco me contou uma história ainda não divulgada sobre Jânio Quadros, de quem foi amigo e assessor. Governador de São Paulo, Jânio mandou seu chefe de polícia reprimir com dureza no dia seguinte um piquete de grevistas. Amanhecia e o confronto se armava: de um lado os policiais e, de outro, os grevistas. Inesperadamente, aparece o governador, vestido de pijama, chinela, robe por cima, cabelo em desalinho. Todos param, espantados. Jânio se posta à frente aos grevistas e aponta o dedo ao chefe de polícia. "Se quiserem bater nesses honestos trabalhadores, terão também de me atacar". Foi delirantemente aplaudido.

Texto Anterior: De tarefas e atritos
Próximo Texto: Escândalos DC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.