São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

As lições do México

LUÍS NASSIF

A desvalorização do câmbio pelo México encerra lições preciosas, mas que não devem ser superestimadas.
A primeira é sobre essa tendência de gerar déficits em conta corrente a qualquer custo. Nos anos 70, os dólares entravam no país através do mercado financeiro. Com a moratória fechou-se essa porta e o país teve que buscar dólares através do mercado comercial. Agora, tem-se situação duplamente favorável. Do lado da balança comercial, devido aos superávits (diferença entre exportação e importação) estruturais obtidos a partir de 1984. Do lado financeiro, devido ao entusiasmo do capital externo com a estabilidade econômica do país.
O aumento do ingresso de dólares, nestas duas frentes, tenderia naturalmente a desvalorizá-lo frente o real –por uma questão de oferta e procura. Uma queda muito acentuada do dólar tiraria a competitividade das exportações brasileiras. Para que isso não ocorresse, haveria a necessidade de aumentar as importações, reduzindo os superávits sem prejudicar as exportações.
A equipe econômica, no entanto, decidiu colocar o déficit em transações correntes como objetivo final –e não como consequência dessa nova realidade cambial. Com uma política cambial equivocada, produziu defasagens de mais de 20% no câmbio e, em pouco menos de três meses, liquidou com mais de dez anos de superávits comerciais.
Há cerca de um mês a coluna alertava para as consequências. Saldos comerciais são estáveis; saldos financeiros, fluidos, podendo ser revertido a qualquer momento.
O dinheiro estrangeiro entrará enquanto houver espaço para valorização dos ativos internos e privatização. Depois, o fluxo financeiro vai rareando, sem que os saldos comerciais se recuperem na mesma velocidade. Justamente porque o câmbio defasado, lá atrás, provocou o cancelamento de projetos voltados para a exportação.
Quanto maior o hiato, maior a ansiedade do capital estrangeiro. Até que um fato político qualquer serve de senha para a debandada, obrigando a uma maxidesvalorização –como ocorreu anteontem no México.
A sorte do Brasil é que o debate público sobre o tema impede que maluquices sejam levadas às últimas consequências.
Síndrome do peru
Mais que conjeturas, as afirmações taxativas de que é claro que José Serra e Pedro Malan vão brigar no governo FHC, devem ser debitadas à febre do peru –aquele bípede plúmeo que morre de véspera–, que costuma atacar organismos debilitados pela falta de assunto do período natalino.

Texto Anterior: Preços sobem no México e geram especulação
Próximo Texto: TST suspende decisão do TRT sobre conversão do 13º salário
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.