São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994
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Câmbio do real passa em teste, diz Bracher

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O comportamento, ontem, das cotações dos ativos brasileiros no mercado financeiro nacional e internacional mostrou que o Brasil passou pelo primeiro teste de confiança imposto pela crise cambial do México, disse o ex-presidente do Banco Central, Fernão Bracher.
Os sinais de que o país passou pelo primeiro teste, segundo Bracher, foram a acomodação do dólar no patamar de R$ 0,85 sem nenhuma intervenção do BC e a recuperação das cotações dos títulos da dívida externa brasileira no mercado internacional e das Bolsas de Valores no mercado doméstico.
Bracher, que hoje é presidente do Banco BBA Creditanstalt, atribuiu o movimento de saída de capital estrangeiro detonado pela crise do México, que obrigou o BC a realizar dez leilões de venda de dólar anteontem, "à ignorância do mercado internacional a respeito da América Latina".
"O Brasil de hoje está muito forte", disse o ex-presidente do BC, lembrando que o país tem reservas cambiais acima de US$ 40 bilhões e continua sendo exportador de capital, com superávit nas suas contas correntes internacionais. A economia mexicana, em contrapartida, encontra-se enfraquecida pelos efeitos da política recessiva muito forte que gerou taxas de crescimento medíocres nos últimos anos e com uma taxa de câmbio comprimida por um período excessivo.
Na opinião de Bracher, o Brasil ainda "tem folga para continuar com a atual política cambial". Ele ressalvou, porém, que "a experiência do México nos ensina que há limites na manutenção de uma taxa cambial comprimida".
Sua tese é de que, para não gerar movimentos de queda nas exportações de difícil reversão no futuro, o BC deveria sinalizar ao mercado de que a taxa de câmbio não permanecerá fixa enquanto a inflação prevista pelo governo para o ano de 1995 está no patamar de 20%. O melhor parâmetro, na opinião de Bracher, é o índice de preços industriais no atacado.
Armadilha
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas)-SP, diz que o Brasil não tem nada a temer da crise mexicana.
"O Brasil tem vantagem porque embarcou na canoa da ancoragem cambial há apenas seis meses".
Para ele, o Brasil tem condições de acertar os rumos de sua política cambial para não cair na mesma armadilha que o México.
Ele recomenda uma política gradual de recuperação da taxa de câmbio em 95 para desfazer os efeitos da excessiva valorização cambial acumulada.
"O governo FHC tem condições de fazer isso fortalecendo o Plano Real na área fiscal", diz.
Nogueira Batista acha que o presidente FHC deve usar "rapidamente" o capital político dele para aprofundar as reformas estruturais, principalmente as reformas fiscal e tributária, para depender menos do câmbio como âncora para a estabilidade da moeda.
"Fernando Henrique tem clareza da necessidade das reformas, porque sabe que sem isso é quase certa a volta da inflação".
Colaborou a Reportagem Local

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