São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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FHC quer privatizar o esporte

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente eleito Fernando Henrique Cardoso pretende privatizar o esporte profissional no Brasil. Isso pode afastar empresas estatais do vôlei e do futebol.
O novo governo vai priorizar o esporte de base, a massificação da prática esportiva, como já sugeriu Pelé, indicado ministro extraordinário dos Esportes.
O novo ministro afirmou que deseja um esporte "acessível não só aos deuses".
Boa parte dos recursos da União destinados ao esporte são canalizados para a prática profissional através do patrocínio de empresas estatais a equipes e atletas.
É o caso, por exemplo, da Caixa Econômica Federal (que patrocina o basquete), o Banco do Brasil (vôlei) e a Petrobrás (futebol, com o Flamengo).
"O Estado não tem como bancar o esporte profissional, um time de futebol. As equipes têm de correr para a iniciativa privada", disse à Folha Joaquim Inácio Cardoso Filho, diretor da Secretaria Nacional de Desporto (e primo de FHC).
Ele citou como exemplo o sucesso no futebol da parceria entre o Palmeiras e a multinacional italiana Parmalat.
"Haverá uma rediscussão do patrocínio de estatais ao esporte profissional. O Fernando Henrique quer rever isso com clareza", disse o jornalista Juca Kfouri, um dos principais interlocutores do presidente eleito na área do esporte.
Caso essa orientação atinja os governos estaduais, pelo menos aqueles controlados pelo PSDB (partido de FHC), haverá uma revolução na organização do esporte no país.
Muitas equipes importantes de basquete e vôlei, por exemplo, têm patrocínio ou apoio de empresas públicas estaduais.
É o caso de três dos quatro finalistas do basquete masculino em São Paulo: Cesp/Rio Claro, Nossa Caixa/Limeira e Sabesp/Franca.
Em 1992, houve uma tentativa, fracassada, de impedir estatais paulistas que operavam em regime de monopólio, sem concorrência (como a Sabesp), de patrocinar equipes esportivas.
"Foi importante o papel do Banco do Brasil no vôlei. Mas agora um banco privado pode assumir. Há interesse", afirmou Kfouri.
Massificação
A "promoção do desporto educacional" é a principal prioridade do Estado, segundo a Política Nacional de Desporto, descrita no capítulo 3 da Lei Zico. É também o que reza o programa de governo do novo presidente.
"Os recursos e incentivos públicos devem ser destinados ao esporte de base, em detrimento do esporte de rendimento e de nível internacional", afirmou o ex-secretário de Desporto Márcio Braga, membro do recém-criado Conselho Superior de Desporto.
"A grande função do Estado é social. A prioridade zero é o esporte de base. O esporte hoje é praticado por um grupo privilegiado, que pode pagar por uma quadra", afirmou Cardoso Filho.
Entre as medidas que estão sendo estudadas para massificar a prática do esporte no país estão:
1) a realização de uma olimpíada do menor carente; 2) o aproveitamento da capacidade ociosa (quadras, professores etc.) das escolas públicas nos finais de semana; 3) o envolvimento de grandes empresas no custeio de professores esportivos e treinadores.

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