São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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O ponta-de-lança precisa ter algo mais

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O velho Zagalo começou dando uma no prego e outra na ferradura. A idéia de jogar com três atacantes e um armador é muito boa. Mas hoje em dia vale menos a concepção do que a prática. Qualquer idéia é válida, até mesmo jogar com cinco atacantes ou cinco volantes, desde que, desses, pelo menos três saibam e tenham fôlego para defender e atacar.
No caso, Zagalo optou erradamente por Marques para ocupar a função que causou certa espécie ao Marcelo Damato –a de ponta-de-lança. Essa é uma figura dos tempos que antecederam à entrada em campo do próprio Zagalo, nos juvenis do Flamengo. Naquela época, virada dos 40 para 50, chamava-se assim um dos meias mais avançado, aquele que jogaria mais próximo dos atacantes. O outro meia era o armador, que haveria de compor o meio-campo com o volante, no que se configurou mais tarde como 4-2-4.
Falando nisso, me vem à memória Ademir de Menezes, ídolo vascaíno dos anos 40 e 50, cujo estilo parece ter sido herdado por Marques. Quando Marques dispara pela esquerda, corta pra dentro e faz aquela jogada aguda de gol, sempre me lembro de Ademir, embora este fosse canhoto e muito mais veloz.
Mas o folclórico técnico Gentil Cardoso, quando assumiu o Fluminense, num tempo em que só dava Vasco ou Flamengo, cunhou a célebre frase: "Deêm-me Ademir e serei campeão". E o tricolor obteve Ademir por empréstimo, e Gentil transformou-o de centroavante em ponta-de-lança. Preciso dizer que a profecia de Gentil deu certo?
Desconfio que Zagalo andou viajando por essas águas, quando pensou em Marques como ponta-de-lança, no jogo de sexta, contra a Federação Iugoslava. O fato é que o ponta-de-lança de hoje precisa ter algo mais do que simples rush e volúpia pelo gol. A função exige um descortino que não chegou ainda a ser incorporado pelo futebol de Marques. Tanto que, a exemplo do que acontece no Corinthians quando ambos atuam, Viola é quem foi buscar o jogo para fazer a tal ligação entre meio-campo e ataque. E, por isso mesmo, foi o maior destaque.
O pepino continua a armação de jogo propriamente dita, tarefa entregue a Zinho, a exemplo do que ocorreu na Copa. Não é nem jamais será sua especialidade. Pior: não vejo por aí nenhum especialista nesse ramo, que já deu uma nobre estirpe ao nosso futebol, de Romeu a Gérson, passando por Zizinho, Jair Rosa Pinto e Didi. Quem sabe se o Palmeiras trouxer Válber, que se revelou no Mogi e se projetou no Corinthians, não estará resolvendo o problema para Zagalo?
Mas cadê o craque de meio-campo, o cérebro do time, o organizador de jogadas, que antevê a jogada e que a realiza num traçado firme e irretocável, cadê?

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