São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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Raí diz que teimosia ajudou na recuperação do prestígio

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Na Bahia, em férias após sua discreta participação na Copa do Mundo dos EUA, Raí tomou uma decisão importante: "Este ainda vai ser o meu ano".
Desde então, o ex-jogador do São Paulo recuperou a posição de titular no Paris SG e é o artilheiro da equipe francesa.
"Sou teimoso e nunca pensei em retornar, mesmo nos momentos difíceis", disse à Folha.
Melhor adaptado à França e livre da pressão psicológica da Copa, Raí volta aos poucos a jogar seu melhor futebol.

Folha - O que mudou desde sua chegada à França?
Raí de Souza Vieira de Oliveira - Hoje, lembrando aquela situação, é até estranho. Não conhecia o novo mundo que estava por vir.
A minha contratação teve muito peso; foi uma das maiores do futebol francês. Eu tinha acabado de ganhar o Mundial Interclubes com o São Paulo.
Também houve muito jogo de marketing. Nesse aspecto, eles conseguiram de imediato o que precisavam. O Paris SG formou um time de prestígio internacional.
Folha - Por que a adaptação foi tão longa?
Raí - Foram várias coisas ao mesmo tempo. Eu não estava em condições. Vim muito cansado de vários campeonatos seguidos com o São Paulo. As eliminatórias da Copa também representaram um desgaste psicológico muito grande.
Cheguei um pouco desgastado para mostrar a curto prazo tudo o que eles estavam esperando, que é o que estou fazendo agora.
Folha - O novo idioma teria sido o responsável por esta demora na adaptação?
Raí - O idioma é uma das razões. Eu tinha um ambiente muito bom no São Paulo. Aqui não conseguia me comunicar. Isso me deixou inibido e inseguro.
A adaptação da família é mais difícil ainda. Minha filha menor, que é a que deu mais trabalho, agora fala francês fluentemente.
Folha - Você também.
Raí - Não tão bem quanto minhas filhas. Ainda faço aula particular, umas três horas por semana.
Alguns jogadores comentam que ficaram espantados. Acho que é um pouco de gentileza deles. Quem aprende quando já é adulto sempre vai ter um sotaque um pouco mais puxado. Mas já me dou por satisfeito.
Folha - Sua timidez influiu na dificuldade de adaptação?
Raí - Acho que sim. No São Paulo já me sentia à vontade. Lá também tive um período de adaptação. Acho que tem a ver com a minha personalidade.
Folha - No clube, todos elogiam seu profissionalismo.
Raí - Independentemente do momento difícil, procurei me comportar de uma maneira profissional. Sempre tive um comportamento exemplar e fiz de tudo para ajudar o grupo, a equipe. Eles reconheceram isso.
Folha - Em algum momento você pensou em voltar?
Raí - Não, nunca. Tive momentos internos dificílimos comigo mesmo. Mas nunca desisto. Sou teimoso nesse aspecto e continuei confiando no meu potencial.
Folha - Havia clubes brasileiros interessados em você.
Raí - Tive alguns contatos. O próprio São Paulo chegou a cogitar. Mas eu sabia que minha recuperação era questão de tempo.

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