São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 1994
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Reuniões semanais com deputados eram "pesadelo", afirma Fleury

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
EDITOR DO PAINEL

O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB), considera que, em seus quatro anos de governo, seu "grande pesadelo semanal" foram as reuniões que mantinha todas as segundas-feiras com deputados.
"Nunca recebi uma sugestão construtiva. Eram sempre pedidos de nomeações, comissionamentos, verbas para um determinado município", reclamou.
Inquirido se não tinha sido graças a isso que conseguiu maioria na Assembléia, Fleury concordou. O governador contou com o apoio dos deputados estaduais do PMDB, PTB, PFL, PL e PSD.
As declarações de Fleury foram feitas, anteontem, ao final do programa "Roda Viva", da Rede Cultura de Televisão, no qual foi entrevistado sobre seu mandato.
Confrontado com o balanço político de seu governo –seus candidatos não chegaram ao segundo turno nas eleições para prefeito, governador e presidente–, Fleury disse que "quem ganha ou perde eleição é o candidato; e eu não fui candidato".
Na conversa nos bastidores do programa, Fleury chegou a dizer que seu candidato preferencial à sua sucessão não era Barros Munhoz (PMDB). "Minha preferência manifestada diversas vezes foi pelo 'xerife' Romeu Tuma (PL)".
Durante a maior parte do programa, o governador tentou mostrar que o Estado não está falido, como sugere seu sucessor, Mário Covas (PSDB). "Ele está muito mal informado", disse duas vezes.
Quando não estava defendendo sua administração, Fleury procurava justificar, por exemplo, sua aposentadoria especial. O governador se aposentou aos 46 anos como procurador de Justiça.
Afirmou que receberá R$ 6.900 mensais e não R$ 8.000 ou R$ 12 mil, como foi divulgado. No fim, chegou a dizer que renunciaria ao benefício se a aposentadoria aos 30 anos de serviço fosse extinta.
O episódio "mais traumático" de sua administração, na opinião de Fleury, foi o massacre da Casa de Detenção, quando 111 presos foram mortos após uma rebelião.
Depois do programa, Fleury disse algumas frases reveladoras sobre sua gestão.
"Meu erro principal no governo foi não ter cultivado a mídia, como fizeram ACM (Antônio Carlos Magalhães, ex-governador e senador eleito pelo PFL) na Bahia e Ciro Gomes (ex-governador e ministro da Fazenda de Itamar Franco) no Ceará", avaliou.
No intervalo do programa, o governador ironizou as críticas ao número de paulistas no ministério: "Eu acho pouco". Em seguida, continuou espetando Ciro Gomes.
"A melhor coisa que fez Itamar, depois de ter nomeado Fernando Henrique para a Fazenda, foi ter colocado Ciro em seu lugar. Pois assim a nação ficou conhecendo a sua verdadeira face, muito diferente daquela para inglês ver que ele pintou para a imprensa do sul maravilha", atacou.

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