São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 1994 |
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A história esquecida
JANIO DE FREITAS
"Nossa situação era muito diferente da mexicana em 82. E nos estrepamos. Os efeitos da crise da dívida que então eclodiu no México vieram criar outra crise aqui. E em mais países." Para quem não se lembra ou não sabe, foi esta crise que enfraqueceu o regime militar a ponto de tirar-lhe o controle do sistema político, daí resultando a redemocratização. A atual crise mexicana foi motivada, sobretudo, pela falta de reservas em dólar para enfrentar compromissos externos. E aí está a diferença que fundamenta os economistas oficiais e sua tese da invulnerabilidade brasileira a efeitos da crise mexicana: as reservas do Brasil passam de US$ 40 bilhões. Ótimo. Como ótimas eram as reservas mexicanas no começo do ano, oscilando entre US$ 25 e US$ 30 bilhões limpinhos. Dinheiro, na maior parte, atraído ao México pela alta lucratividade da ciranda financeira de lá, acionada pela altitude dos juros e, por consequência, das bolsas de valores. De repente, porém, o dinheiro especulativo começou a sair, e não parou mais. As reservas assim minguadas fizeram a crise. O grosso do dinheiro que tem entrado no Brasil é também especulativo, destinado a ganhar em um mês, com os juros fabulosos dos títulos emitidos pelo governo, o que lá fora não ganharia nem em um ano. Para os especuladores americanos e europeus, não existem México, Brasil, Bolívia, Chile & cia. Estas são referências muito sutis. O que existe são América Latina e latino-americanos. Crise em um lugar quer dizer possibilidade de crise em outros. A esta altura, não há dúvida de que os especuladores internacionais estão de olho no seu dinheiro posto no Brasil e de mãos prontas para sacá-lo à primeira suposição de sinal negativo. É da natureza do dinheiro especulativo, qualquer que seja a sua nacionalidade. Apesar disso, os economistas do atual e do futuro governos decretaram que o Brasil é invulnerável a efeitos da crise mexicana. Mas sua tese não é, do ponto de vista da história que esqueceram. Texto Anterior: Recadastramento de servidores é adiado Próximo Texto: Malan defende a redução dos encargos trabalhistas Índice |
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