São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 1994 |
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Malan defende a redução dos encargos trabalhistas
VALDO CRUZ; GUSTAVO PATÚ; VIVALDO DE SOUSA
"É uma das maiores diferenças do mundo a que ocorre no Brasil entre o salário real e o custo efetivo do trabalho para o empregador. O salário é baixo, mas o custo para o empregador não", disse. Segundo Malan, a redução do "custo do emprego" ajudará no combate à inflação e ao desemprego, e servirá ainda para aumentar o salário real. Em sua primeira entrevista como futuro ministro da Fazenda ele mantém a reforma fiscal como o principal objetivo do governo na área econômica. A recente crise mexicana, avaliou, reforça a idéia de que a estabilização não pode se basear apenas em âncoras cambiais e monetárias. Embora afirme ser necessário um aperfeiçoamento da atual política de câmbio, Malan descartou a volta da correção do valor do dólar pela inflação. "Os bons tempos (para os exportadores) não voltarão." A seguir, a entrevista concedida em seu gabinete no BC: Folha - O sr. defende que a consolidação do Plano Real seja encarada como um processo contínuo. Segundo esse parâmetro, quais são os pontos a serem atacados logo nos primeiros meses do futuro governo? Pedro Malan - A reformulação da estrutura fiscal é a principal prioridade, como temos insistido. Mas podemos definir as prioridades em cinco grupos principais, que vou citar sem que haja uma ordem de importância: reforma fiscal, redução dos custos de produção e emprego, desindexação, aperfeiçoamento do regime cambial e do regime monetário. Folha - Quando estas medidas começam a ser adotadas? Malan - Espero que haja avanços consideráveis ao longo de 95, em particular no primeiro semestre. Não depende só do Executivo, depende do Congresso também. Folha - O ajuste que faltou ao Plano Real foi o fiscal? Malan - Você tem razão no sentido de que existe até o momento um ônus excessivo recaindo sobre as políticas monetária e cambial, derivado em parte do fato de que não avançamos, como eu gostaria, no "front" fiscal ao longo de 94. Folha - E as outras prioridades? Malan - A outra é essa que estamos chamando, para unificar o discurso, de redução de custo de produção de bens e serviços no Brasil, em relação ao custo aos competidores do mundo todo. É desejável e indispensável que façamos coisas para reduzir o custo do capital no Brasil, reduzir o custo do investimento e da ampliação de capacidade produtiva. Folha - Que mais pode ser feito? Malan - É possível reduzir o custo do emprego, do fator trabalho percebido pelo empregador. É uma das maiores diferenças do mundo a que ocorre no Brasil entre o salário real, recebido pelo trabalhador, e o custo efetivo do trabalho para o empregador. O salário é baixo, mas o custo para o empregador não. Nós fomos ao longo de anos colocando penduricalhos, na forma de contribuições na folha de pagamentos, fazendo com que essa diferença hoje seja superior a 100%. A redução desse custo permite não só a redução do custo Brasil, mas permite o aumento do emprego e pode resultar também em aumento do salário real. Folha - A idéia é reduzir as contribuições que são cobradas hoje em folha de pagamento? Malan - É, rever a natureza dessas contribuições, os casos em que elas podem ser reduzidas ou deixadas à negociação, ao invés de ter todas essas coisas rigidamente fixadas em lei e aplicadas a todas as atividades. Folha - O governo pretende anunciar logo a desindexação? Malan - O processo de desindexação também tem que ser gradual e consistente, porque ele envolve alguns dos indicadores e preços básicos da economia. Folha - Mas há possibilidade de antecipar o fim do IPC-r? Malan - Por enquanto, vale o previsto na lei. Nós não sugerimos a correção dos salários pelo IPC-r, isso foi algo que surgiu das negociações com o Congresso, mas é uma volta da indexação. Folha - No caso da Ufir, a tendência é transformar o indexador em trimestral no primeiro semestre do ano, semestral no segundo e extinguir em 1996? Malan - É nessa direção que as coisas estão caminhando. Isso vai ser decidido até o final da semana. Folha - O regime cambial será rediscutido, ou aperfeiçoado? Malan - Nós dissemos desde o início que o regime, ou, vamos dizer assim, o arranjo que tivemos desde julho levou em conta as enormes incertezas de 1994, não só no "front" econômico como no político. Agora, a grande discussão interna que nós estamos tendo, e teremos ao longo das próximas semanas e meses é a definição regime cambial mais adequado para o país no futuro. Folha - Há exportadores prevendo cancelamento de operações se a política cambial não mudar. Como a equipe encara isso? Malan - O que é preciso ficar claro é que os chamados bons tempos não voltarão. O que chamamos de bons tempos é um período prolongado em que a taxa de câmbio era indexada perfeitamente, numa base diária, à inflação corrente. Folha - Mas estas medidas não devem ter efeito prático já em janeiro. O que o governo pode fazer de imediato no câmbio? Malan - O que queremos é que tanto as exportações quanto as importações cresçam. Não há necessidade de o Brasil gerar megassuperávits comerciais, do tipo que gerou de 1983 a 1993. Isso tinha a ver com a crise da dívida externa, que já foi equacionada. Folha - A crise do México alterou a forma de a equipe econômica encarar a política cambial? Malan - Não, eu acho que só reforça a necessidade de se caminhar naquelas coisas que mencionei. Uma política de estabilização não pode estar baseada só em câmbio e política monetária austera. Texto Anterior: A história esquecida Próximo Texto: Itamar discute forma de reajustar mínimo Índice |
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