São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 1994 |
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O faz-de-conta O futuro ministro da Educação, Paulo Renato Souza, terá pela frente um formidável desafio: tentar imprimir um pouco de ordem à caótica situação do ensino no país. Já há tempos a educação brasileira enfrenta um curioso paradoxo. A sociedade tem hoje a correta percepção de que qualquer mudança substantiva da qualidade de vida no país passa por uma melhoria no sistema de ensino público. Entretanto, este é um setor que –entra governo, sai governo– permanece essencialmente o mesmo. A ineficiência típica da administração pública junta-se ao corporativismo atávico de um funcionalismo arcaico e ao descaso oficial para produzir uma rede de ignorância generalizada. É como se o Estado fingisse que paga salário a um professor que, por sua vez, finge que ensina a um aluno que finge que aprende. O resultado final está aí para quem quiser conferir: um país de analfabetos e semi-analfabetos. Se o futuro ministro quiser de fato alterar essa situação, não poderá limitar-se aos aspectos gerenciais e programáticos normalmente reservados ao ministério. Mudar a educação no Brasil significa submeter o Estado a uma verdadeira revolução. Será preciso alterar profundamente o sistema, de modo que os recursos nominalmente destinados à educação sejam nela efetivamente aplicados. E mais, tendo as verbas de fato chegado às escolas, é preciso que elas sejam gastas com racionalidade e eficácia: professores devidamente capacitados recebendo salários dignos para transmitir conhecimento a alunos que os assimilem. Trata-se, sem dúvida, de uma tarefa gigantesca, hercúlea mesmo. Para cumpri-la, poderosos e arraigados interesses terão de ser desafiados. Mas não há outro caminho senão enfrentá-los. Ou o Brasil pode dar adeus a suas esperanças de entrar, algum dia, no restrito clube dos países desenvolvidos. Texto Anterior: Chega de roubalheira Próximo Texto: Pedido de explicações Índice |
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