São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 1994
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Chega de roubalheira

Quase 11 meses depois de criada, a Comissão Especial de Investigação (CEI) apresentou esta semana o seu relatório final sobre as suspeitas de irregularidades no Executivo. Embora seja razoável imaginar que o estudo não revele mais que a ponta do iceberg, ele oferece um mapa inicial da corrupção na administração pública que já basta para impressionar.
O estudo identificou falcatruas que vão desde o superfaturamento na construção de estradas, escolas, presídios e obras contra a seca até a liberação indevida de medicamentos, além de uma série de contratos irregulares.
Particularmente inquietante é que a corrupção parece ter-se tornado tão corriqueira no país que um estudo como esse não causa mais muita indignação. Contudo, a somatória de tais irregularidades tem papel fundamental na situação miserável em que se acha o Brasil.
É impossível estimar a dimensão exata de quanto corruptos e corruptores, do lado público e privado, sugaram da sociedade brasileira ao longo do tempo, mas parece indiscutível que as rodovias, escolas e hospitais do país poderiam ser mais e melhores hoje não fosse a voracidade da sua rapinagem.
No caso dos transportes, por exemplo, um dos setores mais visados no relatório, o sobrepreço médio na construção de estradas, segundo a CEI, chega a 40%.
O ideal sem dúvida seria erradicar completamente a corrupção da administração pública. Mas é certamente possível reduzi-la a níveis muito menos acintosos, menos ofensivos para as dezenas de milhões de cidadãos que sustentam o Estado com seus impostos.
A gestão atual lamentavelmente não deu seguimento adequado a denúncias e sugestões antecipadas pela CEI. O próximo governo será então posto à prova desde o seu início, com o desafio de mostrar, com celeridade e ações concretas, se vai ou não compactuar com o binômio corrupção-impunidade que há tanto sangra o país.

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