São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Cidadãos e patrícios

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Quando Lula estava com 42% das intenções de voto, um dos maiores entendidos em campanha eleitoral deste país afirmou com certeza: "Lula jamais será presidente da República!" Nome desse extraordinário entendido: PC Farias.
Beneficiado pela atual onda de transparência, li nos jornais a relação dos doadores da campanha do senador e ministro José Serra. Grana firme e limpa, que deve ter despertado em PC Farias uma melancolia daquelas, reforçada pela viuvez recente e pelos cânticos natalinos bimbalhados dia e noite na TV.
Foi um investimento e tanto do neoliberalismo nacional. E de retorno garantido, pois a partir da próxima semana o Brasil iniciará a nova era, terá afinal o encontro com o futuro que nos foi prometido desde Pero Vaz de Caminha a Stefan Zweig.
O populismo será enterrado e, com ele, a preocupação social que –todos sabemos– não é economicamente viável. Foi varrida da história a concepção do Estado paternalista que pretende distribuir a riqueza nacional entre todos os setores da sociedade. Aos competentes, aos aptos, as batatas. Aos excluídos –que continuem excluídos e não façam marola para atrapalhar o crescimento de nosso PIB.
Uns 20 milhões de brasileiros terão maior garantia de progredir na vida e, se tudo der certo, poderão comprar Miami inteira. Se o Partido Democrata dos Estados Unidos bobear, poderão comprar também Orlando, ali ao lado. Um triunfo para nossas cores. Trocaremos a Amazônia por Mickey Mouse.
Bem, sobrarão uns 120 milhões de brasileiros que não sabem ao certo o que é neoliberalismo, mas terão de se conformar com a cidadania que substituirá o Estado paternalista. Seremos todos cidadãos, como nos tempos da Revolução Francesa.
Mais um pouco, com o sucesso do Estado neoliberal, voltaremos a ser "patrícios" como nos tempos do Império Romano. Desenvolvimento é isso aí.
Por falar no Império Romano, houve um senador que fez muito sucesso por lá e se chamava Incitatus. Nenhuma alusão aos nobres senadores eleitos com o abnegado apoio das elites nacionais.

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