São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Tráfico ignora Exército e retoma 'guerra'
SERGIO TORRES
O assassinato de nove pessoas nos últimos três dias no agrupamento de favelas conhecido como Complexo do Alemão indica, para a polícia, que os traficantes já não se importam tanto com as periódicas incursões comandadas pelo Exército. "Está tudo voltando ao que era antes da Operação Rio", disse ontem o inspetor Walter Faria, chefe do SIG (Setor de Investigações Gerais) da 22ª DP (Delegacia de Polícia), na Penha (zona norte). Dois supostos traficantes –Márcio Santos, 21, o Nem Maluco, e Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê– disputam a tiros as "bocas" de cocaína e maconha no Complexo do Alemão e favelas próximas, como Vila Cruzeiro, Caixa D'Água e Quatro Bicas. No morro das Quatro Bicas, na Penha, a quadrilha de Nem Maluco reagiu a tiros à ocupação realizada no fim-de-semana por Exército e PM (Polícia Militar). Nem Maluco estaria à frente do tráfico na Vila Cruzeiro, Quatro Bicas e parte da favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão. Quase todo o complexo é, segundo a polícia, controlado por Uê, que assumiu a condição de chefe após o assassinato, há seis meses, de Orlando da Conceição, o Orlando Jogador. A polícia afirma que tanto Uê quanto Nem Maluco integram a facção criminosa CV (Comando Vermelho). Uê seria um dos mais antigos líderes do CV. A partir do morro do Adeus, em Vicente de Carvalho, ele teria ampliado seu domínio por dezenas de favelas da região. O perfil de Nem Maluco é diferente. Desde os 12 anos estaria trabalhando para o tráfico no morro das Quatro Bicas, comandado à época pelo criminoso conhecido por Cavalo. Teria ascendido na hierarquia do tráfico por se mostrar corajoso no combate aos inimigos. Há três anos, Nem Maluco brigou com Cavalo e se refugiou no Alemão, sendo protegido por Orlando Jogador, que o teria escalado como gerente do tráfico na Vila Cruzeiro. Com a morte de Jogador, Nem Maluco passou a enfrentar a quadrilha de Uê e conseguiu, até agora, manter parte do domínio do tráfico no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. Revista Cerca de cem homens do Batalhão de Operações Especiais, do Batalhão de Choque e do 16º Batalhão da PM voltaram a revistar ontem ruas e casas da Vila Cruzeiro, controlada por Nem Maluco. Quando a PM chegou, vários tiros foram disparados para o alto, do interior da favela, anunciando a presença de policiais no morro. Até o fim da tarde, a operação havia resultado em algumas detenções. Não houve apreensão de drogas ou armas. Texto Anterior: Governador eleito do Piauí nomeia parentes para o primeiro escalão Próximo Texto: Rio terá Central de Inteligência Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |