São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Fogos de Ano Novo

ELSON DE SÁ

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Só boas notícias, ontem na TV, para que ninguém chegue desanimado ao Ano Novo.
No Jornal Nacional, as manchetes mais pareciam mensagens de cartão, lidas com alegria e largos sorrisos:
– Sai o abono para quem ganha salário mínimo.
– Combustíveis ficam mais baratos no Ano Novo.
– A inflação fecha o ano em queda.
– Consumidor derruba ainda mais o preço da cesta básica.
Depois, abrindo o noticiário, um comentário geral, feito com efusão por Cid Moreira:
– O ano está terminando de uma forma que o brasileiro nem experimentou sonhar.
No Jornal Bandeirantes, a mesma coisa e ainda outra boa nova, anunciada pelo âncora Francisco Pinheiro:
– O Brasil perde o título de campeão mundial da dívida externa.
No TJ, o tom até que vinha mais baixo, mas a inflação de menos de 1% fez com que o âncora Boris Casoy comentasse, também ele feliz:
– O país vive um momento de estabilidade com desenvolvimento... Estabilidade com desenvolvimento. Isso é muito bom. Renova a esperança de um Brasil melhor.
O espírito de festa, de "esperança" com o "Ano Novo", prosseguiu pelas demais redes, em meio à constatação, por assim dizer, gritante:
– O novo presidente, Fernando Henrique Cardoso, vai assumir um Brasil em condições extremamente favoráveis.
Fim de mandato
Pois o tucano queria condições ainda mais favoráveis, no Ano Novo. Não parece nada satisfeito com as benfeitorias de fim de mandato, de Itamar.
Tem o preço dos combustíveis. Pelo texto da Manchete, o preço "vai baixar a partir de 1º de janeiro", por coincidência, o dia da posse.
Tem a tarifa telefônica, que "também pode baixar", e tem a construção de navios no Rio, que recebeu US$ 1 bilhão ontem, segundo a Globo.
E tem o salário mínimo. Itamar pensou no abono para cumprir –simbolicamente, diz a Cultura– a promessa que fez no início do mandato.
Pensou e no fim do mandato levou a decisão ao sucessor, explicando que "o abono será dado no período dele", na frase do próprio Itamar, no SBT.
Não saindo o abono, a culpa seria de Fernando Henrique. Saindo, como saiu, é porque Itamar é um presidente de imensa bondade. E tudo é festa.

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