São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Vestibular e carreira

OSVALDO NAKAO

Os exames da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) se transformam numa comoção social envolvendo quase meio milhão de pessoas se considerarmos os amigos e familiares dos mais de 100 mil inscritos.
Os seus critérios de seleção, mesmo aperfeiçoados a cada ano, não conseguem corrigir uma demanda equivocada que os resultados desse vestibular e a posterior evasão nas universidades têm tornado visíveis. Se os vestibulandos estivessem adequadamente preparados (bem informados e com a devida autocrítica), as relações candidato/vaga manteriam alguma proporcionalidade com as notas de corte da primeira fase, mas não é o que acontece.
Com os dados do vestibular deste ano, divulgados pela Fuvest, pode-se formular algumas questões.
Por que um curso como odontologia da USP, que apresenta em São Paulo a relação candidato/vaga de 31/32 e em Ribeirão Preto de 21/20, teve a mesma nota de corte: 74?
Que ligação pode haver entre as carreiras de jornalismo (nota de corte 80 e relação candidato/vaga 56/93), cinema e vídeo (nota 82 e relação 23/80) e publicidade e propaganda (nota 79 e relação 84/10)?
O que leva um vestibulando a optar por direito (nota de corte 78 e relação candidato/vaga 35/86) ou por arquitetura-FAU (nota 78 e relação 20/89) ou por ciências sociais-UFSCar (nota 47 e relação 2/8)?
As respostas parecem apontar principalmente para o elevado número de "figurantes" entre os inscritos, pois, os que efetivamente disputam as vagas, são em muito menor número do que a relação candidato/vaga sugere ou ainda para a atratividade que algumas carreiras têm no mercado, muito sensíveis aos modismos ou, até, para a região em que o curso é oferecido.
Os jovens, sem dúvida, devem ousar e almejar, pois foi assim que saímos das cavernas. Os sonhos são tão importantes para o espírito quanto o alimento é para o corpo, mas é fundamental equilibrar a aspiração com a realidade. É pura perda de tempo e energia tentar alcançar o inatingível. Quando se fala em cursar medicina, história ou educação física é necessário talento mais que disposição.
Talento que precisa ser continuamente lapidado sem a natural pressa da juventude.
Os vestibulandos, e principalmente o grupo que os cerca (professores, pais, avós, amigos, namorados) não podem se basear unicamente em carreiras fulgurantes, êxitos momentâneos, sazonalidade de mercado para escolher a carreira. A sociedade não se constrói sobre profissões ideais, mas sim, alicerçado em profissionais competentes e dignos.

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