São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Tubarão atrai banhistas para Itanhaém

ANDRÉ MUGGIATI; MARCUS FERNANDES; ORLANDO ROSSELLI JR.
ENVIADO ESPECIAL A ITANHAÉM (SP)

MARCUS FERNANDES
O movimento na praia do Loty, em Itanhaém (litoral sul de SP), onde um tubarão teria atacado um garoto anteontem, aumentou ontem, segundo comerciantes.
O estudante Marco Aurélio Petinati, 14, a vítima, esteve no local ontem e era assediado: todos queriam ver o ferimento em sua mão direita. Para Maria Bernadete da Cunha, que tem um bar no local, "o movimento de hoje (ontem) foi o melhor do ano".
Apesar da curiosidade, ninguém na praia acreditava que a mordida na mão de Petinati tenha sido provocada por tubarão. "Teria arrancado a mão dele", disse o banhista Antonio Erminio, 32. Erminio está há uma semana em Itanhaém em um grupo de seis adultos e sete crianças. Ontem, todos nadaram.
Para Maria Bernadete, a repercussão da história "pode prejudicar muito o comércio nesta que é a melhor época do ano".
O prefeito de Itanhaém, Edson Batista de Andrade (PSD), 64, espera uma publicidade positiva. "Estou oferecendo um prêmio de R$ 20 mil para quem conseguir encontrar um tubarão nas praias da cidade", disse em tom de brincadeira. Para o prefeito, o garoto foi mordido por algum peixe esfomeado, "talvez um caçonete (da família do cação)"
Segundo o pesquisador do Instituto de Pesca de São Paulo, Alberto Amorim, 44, não há diferença entre cação, caçonete e tubarão. "Ele é tubarão quando come a gente e cação quando a gente come ele", disse. Amorim acredita que Petinati tenha sido mordido por um tubarão.
As prefeituras das cidades da Baixada Santista e do Litoral Sul de SP não pretendem fechar praias em virtude do suposto ataque de tubarão de anteontem.
Para o biólogo especialista em tubarões Otto Bismarck, 34, "providências como fechamento de praias só se justificam caso os ataques se repitam em curto espaço de tempo".
Segundo o tenente do 18º Grupamento de Buscas do Corpo de Bombeiros, Ernesto Rizzeto, 32, "não existe 100% de certeza, da nossa parte, para dizer que foi um tubarão que atacou em Itanhaém".
Rizzeto afirmou que outras espécies, como o peixe-espada, também mordem banhistas. "Não é só tubarão que morde no mar", disse.
Bismarck, único representante brasileiro no Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões (Aiat) –ligado a Universidade da Flórida (EUA)– disse que o número de ataques de tubarões "está aumentando nos últimos dez anos".
Segundo ele, dez anos atrás, entre 30 e 40 pessoas sofriam ataques da espécie anualmente. "Atualmente, são registrados entre 100 e 120 notificações mundiais de ataques contra seres humanos, anualmente", declarou.
O biólogo disse que "por hipótese, pode-se sugerir que esse aumento se deva ao crescimento das populações litorâneas".

Colaborou ORLANDO ROSSELLI Jr., do NP

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