São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Elza Soares ganha biografia em 1995

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A cantora Elza Soares teve sete filhos (dos quais três morreram, um deles literalmente de fome), gravou mais de 50 discos, cantou com Louis Armstrong e Astor Piazzola, casou com Garrincha, trabalhou numa fábrica de sabão, passou fome, brilhou na Europa e nas Américas, morreu e ressuscitou um punhado de vezes.
Quem está pensando que essa vida daria um livro acertou em cheio. O escritor e jornalista José Louzeiro, 62, está pesquisando de modo intermitente há seis anos a história de Elza e pretende transformá-la em livro em 95.
Com a ajuda do jornalista Lenin Novaes, Louzeiro coletou vasto material de imprensa (nacional e estrangeira) e gravou várias fitas com depoimentos da biografada. "Ainda falta ouvir umas 80 ou cem pessoas ligadas de algum modo à vida dela, mas isso a gente faz em três meses", diz o escritor.
Seu projeto inclui o lançamento, junto com o livro, de uma fita de vídeo e um CD com os melhores momentos da cantora.
O livro ainda não tem editora nem patrocinador. Louzeiro entregou o material coletado até agora ao editor independente Fernando Nuno, ex-Abril e ex-Círculo do Livro, que está ainda estudando os caminhos possíveis para a obra.
Segundo Louzeiro –autor de best sellers de reportagem como "A Infância dos Mortos" (que inspirou o filme "Pixote") e "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia"–, o livro vai tocar nos pontos mais delicados da biografia de Elza Soares, como a morte misteriosa do radialista Gerson Alves, ex-namorado da cantora.
Até hoje a polícia não esclareceu a morte do radialista. Elza Soares foi chamada a depor, na época, mas tanto Louzeiro como Lenin Moraes estão convencidos de que ela não teve participação alguma no incidente.
Ouvida pela Folha, por telefone, de seu apartamento no Rio, Elza evitou falar sobre o assunto. "Não sei de nada. Naquela época eu estava completamente chocada com a morte do meu filho, só pensava nele, só queria trazer ele de volta."
Retorno
Elza, que está de volta ao Rio depois de ter vivido nos últimos anos mais nos Estados Unidos do que no Brasil, prevê que 1995 "vai ser o ano Elza Soares".
Ela planeja voltar a gravar, depois de dez anos sem lançar disco. "Roberto Menescal é quem vai cuidar disso", diz.
Nos últimos dez anos, sua presença fonográfica se resumiu a participações especiais em discos de gente como Caetano Veloso, Cazuza, Lobão e Nelson Gonçalves.
A mais recente dessas participações foi no disco do songbook de Ary Barroso, produzido por Almir Chediak, prestes a ser lançado. Ela canta a faixa "É Luxo Só".
Entre os planos do editor Fernando Nuno está o de enviar discos e informações sobre Elza Soares ao popstar norte-americano David Byrne, que especializou sua gravadora, a Luaka Bop, em música do Terceiro Mundo. Tem tudo para dar samba.

Texto Anterior: Prefeito do Rio cria programa de apoio ao filme brasileiro
Próximo Texto: Vida é cheia de confusões
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.