São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Candidato do PC francês quer aliança da esquerda

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Robert Hue, 48, candidato do Partido Comunista à Presidência da França, tem a dura missão de renovar seu partido.
Ele assumiu este ano o cargo de secretário-geral, ocupado por Georges Marchais durante 21 anos. Restabeleceu contato com o Partido Socialista, visando uma aliança para as eleições municipais e para o segundo turno da eleição presidencial de 1995. Leia a seguir sua entrevista à Folha.

Folha - Em um mundo onde o comunismo caiu quase totalmente, qual o futuro do PCF?
Robert Hue - Os regimes do Leste Europeu caíram, fundamentalmente, porque não responderam à exigência sem a qual não é possível uma verdadeira transformação social: a democracia.
Essa é a lição que tiramos, guardadas as devidas proporções, do fracasso do Partido Socialista na França. Quando a mudança se faz sem o povo, acaba sendo contra ele. Mas essa experiência não elimina a necessidade de transformar a sociedade e as relações internacionais. Esses problemas são reais e continuam se agravando.
Folha - A que tipo de acordo comunistas e socialistas podem chegar na França?
Hue - Um simples acordo de cúpula, como o de 1972, não basta. Aliás, ele fracassou: o PS voltou atrás, adotou uma política de austeridade típica da direita, a situação dos franceses piorou e a direita voltou ao poder. Propomos um grande debate, que chamamos de Pacto Unitário pelo Progresso.
Folha - O desemprego na Europa parece insolúvel no curto prazo. Qual é a sua proposta?
Hue - Adotar o caminho da coragem e enfrentar o poder do dinheiro. A França tem dinheiro, é um dos países mais ricos. Mas onde esse dinheiro é gasto? Quem decide? Os lucros das empresas francesas em 1994 chegarão a US$ 235 bilhões. Em 1993, US$ 45 bilhões de dinheiro público foram dados às empresas, supostamente para gerar empregos.
Folha - Jacques Chirac propôs um plebiscito sobre a moeda única européia. O PCF se opôs ao Tratado de Maastricht. O sr. é a favor desse plebiscito?
Hue - É uma proposta tardia. Não é apenas a moeda única que deveria estar em questão. Propomos um plebiscito antes de 1996, antes de que sejam tomadas as medidas institucionais do Tratado de Maastricht. A proposta de Chirac é só uma forma de satisfazer os adversários do tratado.
Folha - Falta-lhe o carisma dos líderes comunistas do passado. O sr. se considera o homem capaz de recuperar o PCF?
Hue - Tenho consciência da minha responsabilidade. Tenho muita ambição para meu partido e o começo da campanha me encoraja. Mas sei que será decisivo o engajamento de cada comunista. O PCF está na ofensiva.
Folha - Que resultado o sr. espera da eleição presidencial?
Hue - A única coisa de que temos certeza é que o presidente eleito não realizará a mesma política se eu tiver 7%, 10% ou 15%. Estou trabalhando dia e noite para que o maior número possível de eleitores de esquerda se reconheça no candidato comunista.
Folha - Há laços entre o PCF e a esquerda latino-americana?
Hue - Temos relações permanentes e estamos trabalhando para melhorá-las, com todas as forças progressistas da América Latina e não apenas com os comunistas. Diante das políticas ultraliberais na América Latina, para criar um equilíbrio de forças mais favorável ao povo é necessária uma convergência das resistências. Assim, a diversidade da esquerda se torna uma força e não uma fraqueza. No Brasil, temos boas relações com o Partido dos Trabalhadores.

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