São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 1994
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Preço da colheitadeira sobe mais do que grãos

BETY COSTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A elevação nos preços das máquinas agrícolas entre 1985 e 1993 enfraqueceu o poder de troca dos quatro principais produtos agrícolas, segundo dados da Organização das Cooperativas do Paraná (veja quadro ao lado).
Enquanto o preço do trigo sofreu perda de 69,2% no período analisado e o arroz caiu 27,6% em dólar, uma colheitadeira MF 5650 valorizou 30,6%, com aumento de preço, em dólar comercial, de US$ 46,6 mil (85) para US$ 61 mil (93). Mesmo a soja e o milho, com ganhos reais no período, perderam na troca com as colheitadeiras.
"Isto mostra o quanto o setor de máquinas é oligopolizado. Três ou quatro empresas controlam a produção e à medida que a demanda caiu durante a recessão, os fabricantes tiveram poder suficiente para aumentar os preços reais das máquinas. O preço de um trator MF 275 subiu em dólar 93% no período", afirma Amílcar Gramacho, diretor do departamento econômico da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).
Para Gramacho, o desequilíbrio entre a desvalorização da produção nacional e o abusivo aumento no preço das máquinas comprometeu a produtividade das culturas, uma vez que impediu a reposição da frota de máquinas.
Paulo Hermann, diretor de planejamento estratégico da Maxion, que fabrica a máquina MF 5650, diz que no período em que os preços das máquinas agrícolas tiveram aumento real de 30,6%, os insumos e matérias-primas evoluiram acima de 61%. "Alguns destes insumos são controlados pelo governo. Como o aço, que sofreu aumento real de 66% entre 1986 e 1993 e a energia elétrica, que no período subiu 72,6% em termos reais", diz Hermann.
Segundo o diretor da OCB, nas últimas negociações a respeito da integração do Brasil no Mercosul, quando se discutiu a TEC (Tarifa Externa Comum), ficou decidido que os tratores continuarão com altas tarifas de importação.
"Com essa medida, o oligopólio brasileiro continuará protegido, enquanto os produtores da Argentina, Uruguai e Paraguai podem comprar máquinas no exterior sem qualquer tarifa de importação", diz Gramacho.

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