São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 1994
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Os netos do veludo

ZECA CAMARGO

Uma banda como o Velvet Underground já tem idade suficiente para ter filhos –talvez até netos. E não poderia existir uma definição melhor para a Stereolab. Bandas de rock são bastante repelentes a qualquer comparação, mas nesse caso, a referência ao Velvet é uma honra. Para aumentar os pontos em comum, o terceiro (e melhor) álbum do Stereolab sai nos EUA quase junto com aquele ao vivo gravado na turnê surpresa do Vevet no ano passado. Muita coincidência –positiva.
Inéditos ainda no Brasil, eles estão disponíveis para serem descobertos assim que você acordar do pesadelo grunge. Para os que conhecem o termo "alternativo" desde os anos 80, então os ingleses do Stereolab são melhores que um "revival". A última banda que talvez tenha feito você se sentir tão excitado foi o Jesus and Mary Chain –em "Psychocandy", claro.
O apelo deles já começa na capa de "Transient Random-Noise Bursts with Announcements", o último trabalho. Numa óbvia indireta de que a bnda prefere o som "impuro" do vinil ao do CD, eles roubaram uma imagem de agulha de vitrola de um disco antigo de efeitos especiais. E para dar continuidade, ruídos eliminados em modernas gravações digitais são ressuscitados nas faixas do álbum.
Elas vão do pop mais inocente de "Pack Yy Romantic Mind" até o psicodelismo interminável dos 18 minutos de "Jenny Ondioline". Na sua longa, mas nunca aborrecida duração está a chave do olhar retrô do Stereolab, que mais uma vez remete ao (surpresa!) Velvet Underground.
Ainda tem a perfeição do "Crest", a estranheza do som tipo berimbau no início de "Golden Ball" e o sample inesperado de "Samba de uma Nota Só" em "I'm Going Out of My Way". Por tudo isso, o Stereolab conseguiu fazer um daqueles trabalhos que tornam a tecla "repeat" do seu aparelho de CD mais útil.

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