São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sai nova lista dos psico-tipos do Congresso

ARNALDO JABOR
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Congresso só atrapalha", me diz o chofer de táxi. Concordei com um sorriso. "Cruzes, tem de invadir esse Congresso e correr todo mundo a paulada", me diz a empregada. Imaginem no Clube Militar. Só o exame psico-patológico dos parlamentares pode explicar tanta insensibilidade diante de um país em pré-hiper. Encontramos os seguintes tipos sob as cúpulas:
1 –"Os amantes da hiper"– Congressistas que têm um fascínio para saber como será a vida depois da hiper, assim como queremos saber da vida depois da morte. Têm pela hiper uma atração sexual, como quem se entrega a um estuprador desconhecido, um salto no abismo, "frisson" da tragédia.
2 –"Albaneses do rancor ou maoístas tardios"– Se recusam a votar o ajuste e a revisão porque querem "repensar o sistema" "from scratch", a partir do zero. O país precisaria de uma "raspagem". Têm pontos de contacto com experiências nazistas purificadoras das raças, operações em bebês, matanças de aleijados. Acabam protegendo os 17 salários das estatais.
3 –"Ruralistas do amor"– Conseguiram diminuir o Imposto Territorial Rural para quase nada, de modo que todas as fazendas do Brasil juntas pagarão tanto imposto quanto o IPTU do Morumbi. Lixam-se para a fome e a seca; também conhecidos como "anti-Betinhos".
4 –"Conchavistas da morte"– Amam o lero-lero, as batotas, os tapinhas, as barrigadas, as fofoquinhas, o roça-roça do plenário, das ante-salas, tudo, menos uma decisão. Política como um "work in progress", um minueto sem finalidade social. No fundo uma pederastia –homens de terno se esfregando para nada. Abundam.
5 –"Filho do Papai do PFL"– Jovem yuppie baiano que tempera coronelismo com charme moderno e comanda 240 deputados num dia e os retira no outro para mostrar que tem boiada e que prepara a candidatura do velho cacique (ver próximo item).
6 –"Adoráveis fascistões"– Estão há anos em nosso museu político de direita. Até enternecem de tão óbvios, com seus ternos e gravatas, guardiões de 400 anos de escrotidão. Há uma beleza histórica neles. Agem como se tivessem a chance de se eleger presidentes. Exemplos máximos: ACM e Maluf. O primeiro sabe que não ganha; o segundo é louco e acha que pode. Ambos lucram com a gestualidade de candidatos. Não hesitam em destruir o país para manter sua dança do ventre.
7 –"Deputados voadores" (Flying politicians) – Serviriam para uma chanchada com música de Wagner; são caçados em aviões de carreira, em churrascarias e motéis. Trabalham de terça a quinta. Atrasam o país por falta de quórum para não perder um bingo em seu curral de eleitores.
8 –"Robespierres em férias"– Inquisidores da CPI que acham que não precisam mais trabalhar, purificados pela luta contra os anões. Se acham absolvidos; não vão votar nem ligam para a revisão. (vide PT-UDN).
9 –"Noivas de Fujimori"– Gang meio bicha que, no fundo, é louca para ver um militar machão invadir as cúpulas com metralhadoras enormes; querem testar, como "go-go girls do apocalipse", quanto tempo os "marcus flavinius" (boneca romana recém-descoberta pelo Exército) aguentam a provocação.
10 –"Grupo Maranhão Nunca Mais"– Família Sarney boicotando ajustes num mudo rancor contra as denúncias que sofreram (idem "Mágoas de Cupuru").
11 –"Grevistas da Fome"– Maria Luisa Fontenelle, Maria Laura (que estão gordas e com celulite), aproveitando para fazer spa no Congresso e ainda faturar votos, afogando "dois coelhos numa caixa-d'água só". São "Betinhos fisiológicos" (ver "Uldoricos").
12 –"Uldoricos" ou "gandhis da mamata"– "Não comer" denota uma denegação da comilança pregressa. A honestidade como jejum. Mas, nem todo magro é honesto, nem todo gordo é ladrão.
13 –"Ibsen" ou "A falta que ele nos faz"– Movimento subterrâneo também conhecido como "Volta, Genebaldo", liderado por pré-cassados do PMDB que circulam com um sorriso de mofa nos lábios como se dissessem: "Se eles tivessem aqui, uniam o PMDB, já que Ulisses se foi" (ver "Penélopes infiéis).
14 –"Petistas Verde Oliva" ou "Lamarca Vive"– Deputados operários com secreto amor pelos soldados do "Encouraçado Potenkim". Foice, martelo e fuzil: ideal leninista. Lindo sonho.
15 –"Cassados Magoados"– Casam o rosto de injustiçados com a destreza de despachantes de si mesmos, para anular a CPI. Fiuza et caterva.
16 –"Penélopes infiéis (ou viúvas de Ulisses) – Tiveram secreto alívio com a morte do superego paterno e caíram no banho de lama.
17 –"Sogrão eletrônico"– Exemplo único: Humberto Lucena –desligou o painel antes da hora, por vingança por não ter nomeado o ministro das Minas e Energia. Tem ciúme edípico de Itamar e vinga Lisle.
18 –"PSDB, ala dos irresponsáveis"– Ébrios de boa consciência social-democrática e narcisismo, dormem no muro e esquecem de ir votar o ajuste. Castigo: ir para o Ceará cavar açude para Ciro Gomes.
19 –"Cavaleiros da CPI"– Exageram a importância dos crimes apurados na CPI para esconder, atrás desta fumaça, seus crimes piores (se bem que invisíveis), tais como: falta de espírito público, política como puro "pudê", boicote à revisão. São moralistas e fascistas, ou "puros, porém fisiológicos". O moralismo como cortina de fumaça. Como citou Antonio Callado, de um jornal de 1867: "Precisamos moralizar esta venda de escravos". Os mais óbvios são os "inquisidores-ladrões", que usaram a CPI para limpar picaretagens transamazônicas.
20 –"Neoliberais autoritários"– Querem provar a inviabilidade da democracia, mesmo sendo eles o futuro alvo dos golpistas. Tendência inconsciente, porém intensa. (ver "noivas de Fujimori"). Encontradiços entre a turminha do FMI e louvadores da "abertura com fechamento". Idolos: Bolívia e Cingapura.
21 –"Tele-Quércia" ou "Papa-tudo Populista"– Teatro de marionetes comandados de São Paulo, aproveitando o vácuo das "viúvas de Ulisses" e o desatino do movimento "Volta, Genebaldo". "Morra FHC e viva o garçom de costeletas", é seu lema. "Blending" de Ademar de Barros, JK e "vítimas da ditadura" (MDB).
Outros tipos vagueiam no Congresso; voyeurs, sádicos, jecas-tatu, figuras do nosso folclore urbano e rural, picaretas do Lula (quantos do PT?) e, obviamente, os tipos mais comuns, do Partido mais geral conhecido pelo povão: os FDP's.

Texto Anterior: O principal vem da Inglaterra
Próximo Texto: Reverendo Al Green troca o gospel pelo soul
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.