São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 1994
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E se Lula enfrentasse Collor?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASILIA – Se Fernando Collor concorresse este ano com Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno, quem ganharia? Essa impossível disputa está numa pesquisa de opinião pública –e traz um incômodo resultado para o PT.
Evidente que Lula ganha, abocanhando 43%; Collor fica com 10%. Ninguém apostaria numa vitória do ex-presidente, transformado em símbolo da bandalheira. Mas o resultado levantado pelo Ibope não é, porém, motivo de comemoração para o PT. Deveria ser, na realidade, motivo de preocupação.
Nem mesmo disputando com Collor Lula conseguiria maioria absoluta no segundo turno. Um gigantesco grupo prefere votar em branco ou nulo. O fato: ele está bem nas pesquisas, comparado com seus adversários, mas estagnado, apesar de não ter saído do palanque desde a sucessão passada. Mais: nenhum partido lançou candidato para confrontá-lo. Só existem, por enquanto, hipóteses de adversários.
Pragmático, Lula sabe que o isolamento é capaz de dinamitá-lo na praia. É sincero seu esforço de expor uma face moderada e abrir leque de apoio. Em especial, com o PSDB. Sua aposta: "Junto com os tucanos, vamos ganhar logo no primeiro turno".
Tem sentido. O PSDB tem bons candidatos a governador em locais estratégicos (São Paulo, Rio, Ceará, Bahia), mas, por enquanto, seu nome à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, não decolou. E, sem resultados no plano econômico, não será nada fácil decolar. Já o PT tem ruins candidatos a governador, mas um nome forte para presidente. Como se vê, teoricamente um encaixe perfeito.
Os números mostram, porém, que Lula é capaz de ganhar mais pela ineficiência dos seus adversários do que propriamente por suas qualidades. Todos os levantamentos vêm demonstrando que, caso o PSDB se una ao PMDB, a sucessão muda de cara. Um candidato com razoável popularidade e sem imagem de larápio estará com um pé no segundo turno. Ali garantiria apoio nas camadas mais à "esquerda" e, por inércia, atrairia a "direita".
PS – Por precaução, o PT já está preparando um dossiê para eventualmente usar contra Antônio Britto, visando comprometer sua gestão no Ministério da Previdência.

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