São Paulo, quarta-feira, 2 de fevereiro de 1994
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Pintor nunca foi abstrato

DA REPORTAGEM LOCAL

"O Ultimo Sonho de Miró" é uma exposição que vai dar mais prazer a quem já conhece a obra de Joan Miró (1893-1983). No ano passado, o MoMA de Nova York organizou uma grande retrospectiva do pintor, que pela primeira vez mostrou a série "Constelações" de uma vez só. O crítico Robert Hughes a descreveu com a costumeira precisão: "A série virtualmente define a visão de Miró da unidade cósmica, uma realização pictórica da mais alta ordem".
Essa busca da unidade cósmica ilumina o "último sonho" de Miró, onde ela quase já não existe ou está se diluindo no branco do fundo, como se Miró pressentisse sua própria mortalidade.
Ali está, mais irregular, mais rudimentar, o bestiário de imagens de Miró, que bebia em quatro fontes culturais: Hieronymus Bosch; a arte decorativa da Espanha islâmica; a "art nouveau"; e o romanesco catalão. No "último sonho" é como se essas fontes estivessem quase secas, e o pintor, alimentando-se do nada, do absoluto. Mas se engana quem pensa que ali Miró ensaia um abstracionismo. Não, Miró nunca deixou de se maravilhar com as formas do mundo real.

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